quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

"?"

Ela sentiu uma tristeza, um mal estar, uma inquietação daquelas que reviram todo o ser. Uma porta se fecha, mais uma porta. Ele, gentil e adorável como em todos os outros momentos compartilhados, lhe entrega uma flor, talvez a última. Última flor, último tchau, mas sem última risada gostosa. Porque ela fechou a porta. Sentiu que era o momento de se recolher dentro de uma conchinha, visitar o fundo do mar e, mais tarde, voltar à superfície com a alma renovada, com as idéias arrumadas cada qual no seu lugar. A bagunça de sentimentos já passou do limite do aceitável. Logo ela, que é sempre tão racional, sempre sabe muito bem o que quer. Mas talvez seja preciso perder-se para depois encontrar a si mesma. E ela partiu, dentro da concha, para o fundo do mar.

sábado, 15 de dezembro de 2007

Palavras ao vento

Ganhei de uma amiga muito legal um livro chamado Pequeno dicionário de palavras ao vento, de Adriana Falcão. O livro traz definições gostosas, muito afetivas e bem humoradas de palavras que são trazidas até nós pelo vento que rege a vida. Eis algumas:
Abandono: quando uma jangada parte e você fica.
Banca: monte de gente sentada fazendo cara de quem sabe mais do que os outros.
Calma: quando as agonias dormem profundamente dentro da gente.
Desculpa: palavra que pretende ser um beijo.
Emoção: um tango que ainda não foi feito.
Flerte: quando se joga escravos de Jó com os olhos.
Gula: quando o chocolate é mais importante que espelho.
Horizonte: linha que serve para evitar que o céu e o mar se misturem.
Infância: o prefácio da pessoa.
Justificativa: tentativa de desculpa que nem sempre cola.
Lhufas: tudo que os pernósticos sabem sobre humildade.
Muro: poleiro de indecisos.
Nunca: palavra bastante corajosa, mas quase nunca cumprida.
Oferta: que custa não sei quanto e noventa e nove.
Paradoxo: pensamento que gosta de ser do contra.
Quixotesco: na falta de moinhos de vento, confundir sinais de trânsito com vaga-lumes.
Romance: caso de amor muito bem encadernado.
Silêncio: quando os ruídos estão sem assunto.
Tempo: onde moram os quandos.
Urgente: que não dá tempo de fazer xixi primeiro.
Vírgula: a respiração da idéia.
Xerox: multiplicação que não é milagre por ser de papéis e não de pães.
Zen: quem consegue não enlouquecer mesmo sem tomar Prozac.

sábado, 17 de novembro de 2007

Colcha de retalhos

Colcha de retalhos (1995), filme de Jocelyn Moorhouse, traz como protagonista uma jovem que prepara sua tese e, ao mesmo tempo, seu casamento. Vivendo na casa da avó, a garota ouve as histórias de amor e paixão vividas por amigas da família, à medida que uma colcha de retalhos é tecida como presente de casamento. Esses sentimentos representados pelos retalhos constróem um novo olhar da protagonista, que passa a questionar a própria vida e o conhecimento que tem acerca do mundo.
São esses retalhos - pedacinhos de histórias - que tecem nossa vida. Construímos nossa grande história com pequenos contos vividos por nós e por outros. E a vida acaba sendo uma imensa colcha de retalhos - fragmentos que formam um todo. Cada retalho acrescido na colcha da vida, revela novas facetas, desperta novos sentimentos, mostra novas veredas.

Informações Técnicas
Título no Brasil: Colcha de Retalhos
Título Original: How to Make an American Quilt
País de Origem: EUA
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 116 minutos
Ano de Lançamento: 1995
Direção: Jocelyn Moorhouse

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Ser curitibano é...

No painel do hospital, li hoje pela manhã alguns estereótipos do curitibano.
Ser curitibano é:
* Enfrentar as quatro estações em um só dia;
* Ter medo de aranha marrom;
* Descer o rio Nhundiaquara e sair com as costas raladas;
* Sair com guarda-chuva em dia de sol;
* Esperar o ano todo para passar um fim de semana de chuva no litoral.
Algo em comum?????? Mera coincidência!

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Poesia X Prosa

Dias difíceis... A atmosfera da prosa de Clarice Lispector e de Virgínia Woolf invadiu o coração assim, repentinamente, sem ser convidada... Surprime, comprime, afoga, asfixia... E o coração à espera que a poesia volte a sustentar a leveza do ser...

domingo, 11 de novembro de 2007

Ler?

Abrir um livro, ver um filme, ouvir uma música, apreciar um quadro, é deixar aflorar as muitas malas contendo as bagagens da vida. É acessar memórias pessoais e coletivas e renová-las. É ler com olhos-de-ver-o-mundo, buscando o novo a partir da herança viva que se traz nas veredas da memória, é tecer as palavras liberdade, transformação e identidade – ave palavra! – com todos os seus significados, no coração e na memória. Ler é criar uma grandiosa teia de afetos que transformam o ser num contínuo e sempre novo ir-e-vir.

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Frase de efeito

Na palestra da noite, em meio a uma discussão sobre alteridade, surge uma fala suave, mas forte, delicada, mas crítica: "Há gente que não pode ser professor, porque destrói sonhos. Quem não gosta de aluno, não deve ser professor".
Professor, volte a viver sonhos e deixar viver, volte a formar águias e não galinhas.

domingo, 4 de novembro de 2007

O nome da musa

Hoje estou imersa em poemas, dos mais variados. Que grande prazer!
Um para começar a semana, de Jorge de Lima, que, como um bom ser humano, não foi um, mas muitos.


O nome da Musa


Não te chamo Eva,
não te dou nome nenhum de mulher nascida,
nem de fada, nem de deusa, nem de musa, nem de sílaba, nem de terras,
nem de astros, nem de flores.
Mas te chamo a que desceu do luar para causar as marés e influir nas coisas oscilantes.
Quando vejo os enormes campos de verbena agitando as corolas,
sei que não é o vento que bole, mas tu que passas com os cabelos soltos.
Amo contemplar-te nos cardumes das medusas que vão para os mares boreais,
ou no bando das gaivotas e dos pássaros dos pólos revoando
sobre as terras geladas.
Não te chamo Eva,
não te dou nenhum nome de mulher nascida.
O teu nome deve estar nos lábios dos meninos que nasceram mudos,
nos areais movediços e silenciosos que já foram o fundo do mar,
no ar lavado que sucede as grandes borrascas,
na palavra dos anacoretas que te viram sonhando
e morreram quando despertaram,
no traço que os raios descrevem e que ninguém jamais leu.
Em todos esses movimentos há apenas sílabas do teu nome secular
que coisas primitivas escutaram e não transmitiram às gerações.
Esperemos, amigo, que searas gratuitas nasçam de novo,
e os animais da criação se reconciliem sob o mesmo arco-íris;
então ouvireis o nome da que não chamo Eva
Nem lhe dou nenhum nome de mulher nascida.

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

El pasado

Trocamos o habitual café domingueiro por una película. Certo, trocamos, não, porque depois do filme não resistimos ao café. Força do hábito.
Foi assim que, domingo passado, assisti ao filme El pasado, de Hector Babenco. Filme argentino, perde um pouco o foco com o desenrolar da ação devido a alguns exageros, mas mantém um bom enredo, com argumentos interessantes. Como não podia deixar de ser (sim, sou apreciadora do cinema, mas entendo - mais ou menos - é de literatura), foi exatamente a narrativa do filme que me chamou a atenção, em especial as fotos. Simbolizam o passado, coisas que deixamos de resolver, que ignoramos, mas que retornam, sempre. Quantas dessas fotos não temos em nossa vida? Eu tenho algumas. E quero entregá-las aos seus respectivos donos para seguir em frente, sem ser surpreendida pelo passado.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Coisas que não entendo

O tempo segue seu curso, muda, transforma, mas ainda assim, há coisas que continuo não entendendo. Por que olhar a vida sob a perspectiva do "copo meio vazio"? O envelope: essa é outra coisa que sempre me atormenta. Pra mim, a frente é o verso... Aquela aba que o fecha tem cara de frente! E o que dizer da infinita discussão sobre Capitu? O que interessa se ela traiu ou não Bentinho? Ah, e o tomate ser fruta? Pode até ter características de fruta, mas na prática não o é. E no trânsito? Por que alguns babacas insistem em grudar como chicletes e achar que, com todo o movimento, todos os carros na sua frente deveriam evaporar?
Alguém se arrisca a explicar?

domingo, 28 de outubro de 2007

Um pouco mais de literatura hoje

Voltei muito inspirada do Cellip. Recordei agora uma fala do escritor - adorável escritor! - Affonso Romano de Sant'Ana. Sobre a história do amor masculino, disse ele: O homem tem medo de amar e não sabe o que fazer com o amor. Será verdade?
Termino os post's de hoje com o trechinho final da crônica por mim recém-descoberta desse autor, "A mulher madura":
A mulher madura está pronta para algo definitivo. [...]
A mulher madura é um ser luminoso é repousante às quatro horas da tarde, quando as sereias se banham e saem discretamente perfumadas com seus filhos pelos parques do dia. Pena que seu marido não note, perdido que está nos escritórios e mesquinhas ações nos múltiplos mercados dos gestos. Ele não sabe, mas deveria voltar para casa tão maduro quanto Yves Montand e Paul Newman, quando nos seus filmes.Sobretudo, o primeiro namorado ou o primeiro marido não sabem o que perderam em não esperá-la madurar. Ali está uma mulher madura, mais que nunca pronta para quem a souber amar.

"A Mulher Madura", Editora Rocco - Rio de Janeiro, 1986.

sábado, 27 de outubro de 2007

Por que se vendem poucos livros no Brasil?

Por que se vendem poucos livros no Brasil? Título da palestra de Jair Ferreira dos Santos (UFRJ), a fala do professor veio corroborar alguns questionamentos que tenho levantado nos últimos anos, com a vivência que tenho em sala de aula.
De acordo com o professor, o fato mais relevante é o letramento deficitário da população. Somente 26% consegue compreender um texto mais longo e complexo. Os outros 74% continua vivendo apenas na cultura oral, sem saber ler ou escrever com eficiência.
E esse fato é observável nos bancos escolares na mais tenra idade. Alunos não sabem ler nem escrever. Isso porque não há uma política efetiva de incentivo à leitura no Brasil. Professores não têm o hábito da leitura e, como conseqüência, não sabem formar leitores. O aluno não lê por prazer, mas para fazer resenha, resumo, prova e preencher fichas inúteis. Pais não contam mais histórias e inserem seus filhos apenas no mundo midiático. E há ainda o fato de vivermos em uma sociedade extremamente prática, que não vê função na literatura.
É, a literatura não serve mesmo para nada.... Só transforma e liberta seres-humanos.

Crítica (by Miguel Sanches Neto)

Estive em Ponta Grossa nestes últimos três dias, participando do Cellip, e tive gratas surpresas. Uma delas foi a palestra do Miguel Sanches Neto. O professor e autor falou sobre o poder da crítica literária e lançou uma severa mas consistente discussão às resenhas atuais.
Feitas por jornalistas que tratam um livro como uma notícia e não como arte, as resenhas apresentam as novas obras ao público leitor de forma rasa. É uma espécie de fast food literário, termo empregado por Miguel Sanches.
Com o afastamento do crítico literário em detrimento das resenhas jornalísticas, a objetividade técnica toma o lugar da criação e há o comprometimento da opinião do resenhista, já que o jornalista tem de muitas vezes escrever o que o editor ou as editoras determinam. No entanto, esse tipo de crítica chega ao leitor, enquanto a crítica acadêmica não cria um público para o autor contemporâneo, por estar acima da compreensão da maior parte dos leitores.
É preciso, segundo Miguel Sanches, criar um projeto sério de crítica literária no Brasil, reaproximando a crítica literária acadêmica - consistente, preocupada com a criação literária - à crítica do jornal - aquela capaz de adequar a linguagem ao público comum.
Enquanto isso, a opinião de Jô Soares continua valendo muito mais do que a crítica literária dos nossos Antônios Cândidos. Afinal, o que conta é se o autor sobreviveu às piadinhas engraçadas realizadas na telinha... Plim-Plim!

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Tempo que te quero tempo

Muita chuva, mas o espetáculo é realmente divino. Bom voltar a lugares conhecidos. Impressões novas surgem, novos afetos são vivenciados. Não foi diferente em Foz do Iguaçu. Foi como revisitar um livro antigo, há muito lido e guardado na memória. Afetos desafloraram. Acho que das outras vezes tinha gostado mais da minha caneta 10 cores e do meu penal que tinha muitos botões e mais parecia um robô meio maluco. Outro despertar dessa vez: as quedas misturadas à chuva que não cessava pareciam uma imensa explosão de sentimentos de naturezas diversas, que ora gritavam, ora sussurravam, só não calavam. O tempo passou realmente.

Retorno

Retorno ao blog, retorno de Cascavel, retorno ao trabalho, retorno ao lar... Mas retorno provisório. O ir-e-vir roseano não é apenas literário, é real. E está mais vivo do que nunca nesse período. Como diz Mario Quintana, o que sobra de todas essas andanças deve ser o meu verdadeiro eu.

domingo, 7 de outubro de 2007

Nossos seres mitológicos

A Grécia sempre me encantou por sua mitologia, bem como Roma. Os deuses do Olimpo são fascinantes e os semideuses, heróis e entidades do Panteão, também. As histórias fantásticas narradas sobre eles na Ilíada e na Odisséia - ambas as obras atribuídas a Homero - contam as batalhas envolvendo gregos e troianos, mortais e divindades, e suas artimanhas elaboradas. Zeus, Palas Atena, Aquiles, personagens representando luta e coragem.
Já no Brasil, os heróis são outros. Essa semana, dia 09, fará 40 anos que Che Guevara morreu. Um dos mais famosos revolucionários marxistas da história, Che representava a linha dura pró-soviética, ao lado do irmão de Fidel, Raul Castro. Assassinou centenas de pessoas e disse frases aclamando a violência, a morte e uma espécie de ditadura esquerdista. Mas não foram essas que ficaram na história, porque Che tornou-se um mito assim que foi capturado e executado. Foi então que todos os extermínios, toda a violência, todas as guerrilhas perdidas, deram lugar à famosa frase: "Hay que endurecerse sin perder la ternura jamás".
Ao lado do cangaceiro Lampião - um assassino, saqueador, bandido, mas idolatrado homem nas terras nordestinas - surge mais um ser mitológico brasileiro, que é aclamado e tem seu rosto estampado em camisetas e bandeiras até hoje, 40 anos depois de sua morte. E eu me pergunto: por que não ficamos apenas com o Saci-Pererê, Iara, lobisomem, mula-sem-cabeça, Curupira, os inocentes seres do mundo fantástico?

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Para terminar bem a semana

A professora, faceira da vida, ensinando o sistema excretor aos seus alunos.
_ Então, o que mais liberamos do organismo?
Pedro* responde com ar pensativo:
_ Aquele gás sujo**, professora.
_ Muito bem! Isso mesmo, Pedro. E por onde liberamos esse gás?
Joãozinho* (sim, sempre ele), mais que depressa, responde:
_ Pela bunda, claro!
............Risos, muitos risos..............
*Nomes alterados para manter a privacidade dos alunos.
**Gás carbônico, amigos.

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Pôr-do-sol

Magnífico pôr-do-sol entre os prédios da cidade encerrou o dia gordo de sonhos, afazeres e ansiedades, sentimentos que dão borboletas no estômago e escassez de ar. O céu ganha a noite, a noite ganha as estrelas, as estrelas, escondidas, não ganham olhares, os olhares, cansados, ganham a coberta das pálpebras. Fim de um dia anunciando o começo de outro.

domingo, 30 de setembro de 2007

Mais um domingo - parte II

Mais um domingo. Diferente, porém, porque o tempo não se repete. Anda, corre, voa... O passado cabe apenas na lembrança, o presente é etéreo e o tempo da vez acaba sendo o futuro.
Hoje, sem sol, tempo esquisito, friozinho;
sem sorvete, mas papo domingueiro no Beto Batata;
sem encontro com o primo-comentarista ao vivo, mas na memória após ler o blog dele.
O que continua é a constatação de que ainda há muito o que fazer (acho que sempre haverá...). Sinal de vida pulsando.

domingo, 23 de setembro de 2007

Mais um domingo

Dia bom. Sol, calor, sorvete e papo animado, cheio de novidades, encontro inesperado com o primo-comentarista e sua moça. Depois, fondue em família - agora sempre falta alguém -, papo na net e fim de domingo. E a constatação de que há muito o que fazer, o que é denunciado pela pilha de papéis acumulados sobre a escrivaninha...

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Nos olhos, os ipês

Hoje, no caminho de todos os dias, parei para olhar os ipês. Estão floridos. De imediato, recordei da querida professora de Ciências - Maria Helena -, que costumava comentar nesse período do ano: "Vocês viram o que aconteceu na Fagundes Varela?" Após tentativas sem acertos surgidas da cabeça fabulosa de nós, estudantes-adolescentes, ela completava: "Os ipês floriram". Não conseguia compreender a grandeza do fato. Mas hoje, meus olhos se encheram de alegria e nostalgia ao admirarem os ipês. Mais um sinal do tempo que passou.

terça-feira, 18 de setembro de 2007

O que é ensinar?

Na sala dos professores, conselho de classe. Entre discussões de condutas, alternativas, metodologias, a Gazeta de domingo nos foi apresentada por uma das professoras. Uma vez mais, a reprovação é vista com maus olhos e nós, professores, somos os grandes vilões da história. E quem deveria estar ao nosso lado, resolvendo problemas que ultrapassam os portões da escola e estão fora de nosso alcance, volta-se contra nós e sobe, majestoso, em um pedestal.
Culpados! Sim, nós, mestres, afastamos os pupilos dos bancos escolares, somos os vilões responsáveis pela evasão e reprovação dos educandos, porque o que ensinamos e a metodologia que escolhemos não estão condizentes com a realidade da criança, estão afastados do cotidiano do aluno.
Além de termos de enfrentar a leitura de um texto repleto de jargões (mestres, pupilos...), temos de ouvir a mesmice de sempre. Então, o que devemos ensinar? Limitarmo-nos a ensinar a ler o nome do ônibus e a fazer contas no supermercado? Isso é o cotidiano? É pouco! Queremos mais. É preciso transformar o conhecimento que o aluno traz, suas experiências, seu modo de ver o mundo. É necessário enriquecer seu acervo, fazê-lo pensar, refletir. E se isso é estar longe do cotidiano do educando, se isso é provocar repetência e evasão, o que é ensinar?

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Frase do dia

Destino: se é que existe, que seja cúmplice.

Fonte: MSN da Nylcéa

domingo, 16 de setembro de 2007

Educação e história

Estava hoje elaborando uma prova para a olimpíada da matemática de minha escola e pensando: o que há de errado com a educação? Que caminho foi tomado tão erroneamente que perdemos o fio da meada? Uma de minhas amigas - colega de magistério - afirma que isso aconteceu no momento em que a escola passou a se preocupar em preparar o aluno para o trabalho, produzindo como fruto do ensino mão-de-obra barata e não pensante.
Não sei. Acho que isso pode ser verdade, mas nós - pessoas de minha geração - somos frutos dessa escola tradicional e tecnicista e alçamos vôos mais longínquos que o simples mercado de trabalho - esse reprodutor de idéias, esse que "emburrifica".
Acho que perdemos o fio da meada no momento em que o velho - ensino tradicional e tecnicista - foi abandonado por completo em pró de uma educação construtivista. Surgiu a moda e os educadores, sem questionar o que estava sendo feito, seguiram-na. Mas não sabiam o que fazer com ela. Então, tudo passou a valer, a ser aceito e o conhecimento do aluno passou a ser considerado - o que é bom - mas não foi modificado, reconstruído. Os saberes que os alunos já possuem não são somente o ponto de partida, mas também de chegada. Não saímos mais do lugar. Resultado: alunos que não sabem ler, escrever, contar, resolver problemas, pensar!
E enquanto vivermos numa sociedade que abomina o antigo, o velho, a história, e está sempre recomeçando sem dar continuidade, sem reconhecer a importância da memória, dos acervos, não chegaremos a lugar nenhum. Afinal, na vida "nada se cria, nada se perde, tudo se transforma", como bem disse Lavoisier. A vida é tecida pela história!

sábado, 15 de setembro de 2007

Tricolor

Hoje, mais uma vitória do time do coração. Essas vitórias remexem sempre em meus acervos. Aprendi a ser são paulina na escola. O Tricolor estava sempre em primeiro lugar na tabela. Resultado: formou uma geração de torcedores. Mas o gostoso mesmo era ligar pra casa de um dos meus amigos quando o São Paulo jogava contra o Corinthians. A cada gol, uma ligação pra gozar do corintiano. E cantar com uma amiga bem alto na cancha do colégio que "nossa bandeira é a maior do mundo". E ainda torcer fervorosamente para ganhar do time da irmã-santista. Lembranças: sempre reavivadas pelo presente.

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Anos após Odete Roitman

Estava, como de costume, almoçando com minha colega de trabalho quando ouvimos - sem querer! - a conversa da mesa em frente a nossa. Falavam da novela das 8. O que assombrou não foi o fato de discutirem quem matou Taís (ou Thaís, não sei a grafia), embora seja absolutamente repugnante que um suspense assim ainda provoque curiosidade no público, mas quem estava conversando sobre tal tema: dois homens! Aí é demais pra uma sexta-feira!

Dinamizando acervos

Depois de uma jornada de trabalho, as três reuniram-se em uma mesinha pra jogar conversa fora e comer um beirut. Faltou uma. Incrível como é difícil reunir as quatro! Antes era mais fácil. Entre uma conversa e outra, falaram de seus acervos cinematográficos, acervos esses que afetaram, cativaram. Lembraram da Menina e o porquinho - que tristeza quando a Charlotte morre! -, A maravilhosa fábrica de chocolate, Os Goonies - o Slot é inesquecível! -, O mágico de Oz e outros filmes que olvidaram o nome, mas jamais a história. É o que ocorre com os acervos: ficam eternizados na memória, despertando saudades, revivendo momentos, dinamizando recordações.

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Um pouco mais de estatística hoje

Estatística: tudo que nos cerca é por ela movido ultimamente. E, infelizmente, também a educação. Alunos, notas, professores, livros, aprovações, reprovações, evasão, pais, funcionários, tudo vira estatística. Dela dependemos para receber a tal da verba - o dinheiro, outro item em ascensão. Daí as aprovações descabidas, que resultam em alunos que desconhecem o mínimo: não sabem ler, escrever, resolver problemas. E hoje, soube de mais uma dessas novidades que dispensam comentários: as escolas que tiverem um número reduzido de retenção, serão contempladas com uma verba mais gorda. E um urra às grandes idéias que tanto prezam pela estatística. Afinal, o que importa são os índices!

terça-feira, 11 de setembro de 2007

Reforma ortográfica

Reforma ortográfica. Sim, aprecio as mudanças. Como aqui já escrevi, a língua é mutável, é reinventada todos os dias. Portanto, reformas são necessárias. Mas andei lendo sobre o assunto e tenho meus questionamentos. O objetivo é unificar a língua portuguesa nos variados países que a tem como língua materna, para facilitar as relações econômicas - comerciais - entre estas nações. E o aspecto cultural? Uma língua representa o modo de ser, de agir, de pensar e de viver de um povo. Portanto, como unificá-la? Uma vez mais o individual não estaria sendo substituído pela massa?

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Mãos

Hoje estive pensando no poder das mãos. Elas afagam, escrevem, constróem, refazem, edificam, alimentam, rezam, dizem adeus, aprovam, reprovam, vivem.
Mas há também mãos que destróem, machucam, ferem, provocam, matam, esterilizam. Mãos que se velam por trás de luvas, se camuflam, se escondem.
Mãos, poderosas mãos que tecem a teia da vida!

domingo, 9 de setembro de 2007

A onda

Na praia, após uma longa caminhada, resolvemos ficar em casa durante a noite. Levei um filme que ganhei de presente do amigo do mano: "A onda". Assistimos.
Baseado em uma história verídica, o filme mostra como é fácil deixar-se envolver por movimentos de massa. O professor Burt Ross, ao abordar o nazismo em sua sala de aula, provoca o seguinte questionamento: como aquelas pessoas puderam deixar de pensar enquanto indivíduos para aderir cegamente ao movimento de Hitler? Ross resolve, então, mostrar ao alunos a facilidade com que se dá a ascensão do irracionalismo dos grupos. Em sua arriscada experiência pedagógica, cria um movimento chamado "A Onda", que tem como lema Poder, disciplina e superioridade, e como símbolo uma onda. Reproduz alguns clichês do nazismo e passa a dominar o cotidiano escolar até desmascarar o movimento em uma reunião, quando põe no vídeo a imagem de Hitler e, com isso, desperta os alunos da inércia.
Vivemos, realmente, sendo ameaçados a todo instante por ondas que anseiam nos engolir. Os movimentos de massa - igrejas, escolas, partidos políticos, jornais, emissoras de rádio e televisão ... - querem impor pensamentos, querem nos cegar. Quantas ondas já não nos arrastaram? Quantas ainda, silenciosamente, não nos arrastarão por quilômetros de vida?
Filme: “A onda” [ The wave]
Dur.: 45 minutos
Direção: Alex Grasshof
País: EUA
Ano: 1981
Elenco: Bruce Davison, Lori Lethins, John Putch, Jonny Doran,Pasha Gray, Valery Ann Pfening.

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Jogo da vida

Jeito bom de terminar a quarta-feira: ver o maninho jogar vôlei com os amigos. Na quadra, rostos conhecidos há tempos. Esse é bom nisso, aquele sempre passa desse jeitinho, as viradas de segunda do mano-levantador. O tempo nos faz aprender mais e mais sobre as pessoas e a convivência torna-se ainda mais prazerosa. Porque o conhecimento traz bem-estar, segurança e o fato de nunca se dar por completo deixa aquela pontinha de entusiasmo, de desafio. O jogo é marcado por companheirismo, determinação, coragem, vontade de crescer, euforia, cansaço, perdas e ganhos. Assim também é o jogo da vida.

terça-feira, 4 de setembro de 2007

O grande circo do mundo

Circo místico. Uma metáfora da vida, sem dúvida. Cada vez mais me sinto seduzida pelo tema, o qual é assunto da minha dissertação. O circo, representação perfeita da humanidade, com seus erros, acertos, tentativas e sonhos. O místico, imagem da busca do incompreensível, do eterno, do divino, seja ele qual for. Vida: cotidiano materialmente vivido somado à procura, à busca do desconhecido.

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Grrrr!!!!!!!!

Primeiro, a deliciosa sensação de entrar no carro - a ação representa o fim de um dia. No caminho, embalada por uma boa música, vem, silenciosa, a reflexão: o que foi feito, aprendido, o que poderia ter sido diferente. Olhos no painel, as horas passando depressa. Leve impaciência por querer estar fazendo outra coisa. A música diverte um pouco mais, mas logo os pés cansados de tanta embreagem lembram os olhos de mirar outra vez o painel: outro quarto de hora já se foi. A leve impaciência cede lugar à irritação. Os ouvidos não mais escutam a música, os olhos deixam de ver paisagens, a mente nega-se a avaliar o dia: todos os sentidos centrados no emaranhado de carros, pessoas, buzinas, freadas, imagens grotescas... A irritação mistura-se ao mau-humor. Detesto esse trânsito curitibano.

domingo, 2 de setembro de 2007

Depois da parada, as bandeirinhas...

Depois de um sorvete delicioso em perfeita consonância com a tarde ensolarada de domingo, fomos encontrar uma amiga no MOM. A intenção era ver a exposição do Volpi. Deparamo-nos com um daqueles engarrafamentos nada curitibanos: passeata gay. Depois de 40 minutos de congestionamento, deixamos o carro há algumas quadras do museu e, finalmente, conseguimos chegar. Tínhamos meia hora para ver a exposição. E foi o que fizemos.
Um olhar "volpiniano" sobre o cotidiano. Resultado: cores, formas geométricas, concretismo e abstracionismo. E a certeza de que aos olhos de leitora muito ficou ainda no patamar da incompreensão e do desconhecimento.

sábado, 1 de setembro de 2007

Páginas da vida

Páginas são viradas e uma a uma vividas, algumas com mais pressa, outras com mais intensidade. Um livro acaba, vem a despedida do já conhecido, do familiar, a saudade do que foi descoberto. Mas a história não acaba. Segue junto, na memória, no coração, acompanhando toda a trajetória, se unindo a novas histórias que vão sendo vividas em outros livros. Cada livro uma história, uma fase... E o ponto final?

quinta-feira, 30 de agosto de 2007

"O MEU URSINHO SE CHAMA PEDRINHO.
TODA VEZ QUE ACORDO CEDINHO
DOU UM BEIJINHO
COM MUITO CARINHO
NO SEU LINDO ROSTINHO."

Jaqueline Ortiz, aluna-leitora-poeta, 8 anos, engatinhando pelo caminho da leitura.

Sim, a leitura abre portas para a imaginação, transforma, cria e recria.

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Uma vez mais o tempo

Não sei se estou com mania de perseguição. Se for isso, é perseguição coletiva, porque o assunto vem sendo proferido por muitos, por meio de simples e descompromissados comentários, até mais elaboradas discussões. O tempo vem me perseguindo. Aterrorizando-me. Domingo, tenho o hábito de planejar a semana, fazendo uma espécie de listinha que fica ao alcance dos meus olhos. São os objetivos a cumprir. O grande problema é que a semana passa - corre! - e não há tempo para fazer tudo. Então, quarta à noite é um momento de repensar os objetivos, ver o que é possível postergar. Alguns objetivos são adiados para o fim de semana. Mas, novamente não é possível conciliar estudo, planejamentos, correções de provas, escritas, leituras, cinema, café com as amigas, enfim... O tempo aponta cruelmente no relógio, na folha do calendário, nas páginas, no próprio blog. E fica sempre a sensação de querer mais e fazer tão pouco.

terça-feira, 28 de agosto de 2007

A bolsa amarela

Estou lendo com os meus alunos o livro A bolsa amarela, de Lygia Bojunga. O livro convida as crianças (deveria dizer aqui leitor, pois todos podemos abrir a bolsa amarela, independente da idade) a adentrar um mundo de gostosuras, conflitos, imaginação, criação. A linguagem é deliciosa e está longe, muito longe daqueles livros infantis que acreditam que a criança é um ser frágil, indefeso, incapaz de refletir. Nesse terceiro livro da autora, caminhamos entre o imaginário e o real, o fantástico e o cotidiano. Não há nada de pueril, moralizações, e aquela linguagem enfadonha do inho.
Raquel, uma menina cheia de sonhos e imaginações, guarda dentro de sua bolsa amarela os mais secretos e incompreendidos sonhos e desejos: a vontade de crescer, de ser garoto e de escrever. Guarda seus desejos buscando a auto-afirmação, o auto-conhecimento porque, em sua família, criança não tem vontade.
Resolvi ter uma bolsa azul - minha cor preferida. Guardarei nela minhas aspirações, não por me sentir incompreendida - ao contrário, tenho me sentido muito compreendida! - mas para abri-la todos os dias, recordando os motivos que tenho para estar aqui, para trilhar e escolher as veredas nas quais anseio transitar.

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Tardes de domingo

"Gugu, Faustão ou Machado de Assis?
Escolha com quem você vai passar as suas tardes de domingo".

(slogan de um marca-páginas da PUC)
Haverá mudança quando a opção de muitos for a terceira. Enquanto isso, o mundo continua a ser povoado por mentes que não pensam, só reproduzem; que não conhecem, apenas aceitam; que não falam, mas calam.

domingo, 26 de agosto de 2007

Um novo olhar sobre o domingo

Domingo pode também ser um rito de passagem. Em meio a um almoço em família com direito a macarronada, sorvete de sobremesa e presença de mãe, pai, maninho, irmã, cunhado, tia, prima, descobri no domingo não o prenúncio de uma tediosa segunda-feira, mas de uma nova semana. Tempo novo que recheia o coração de esperança, de vontade de terminar o inacabado, de crescer, de fazer e refazer. Por isso aprecio tanto os ritos de passagem: nos permitem refletir quando fatiam o tempo.

sábado, 25 de agosto de 2007

Afetos

A vida é feita de laços de afetos. Afetos tecidos, afetos recriados a todo instante, afetos que permanecem apenas na memória, afetos que ressurgem em momento inesperado, mas afetos. Somos cativados a todo instante e também cativamos - o movimento do ir-e-vir - nos tornando responsáveis por nossos afetos. Hoje estou me sentindo completamente cativada! Coração cheinho de afetos...

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Isso é coisa da mídia?

Ontem, tarde da noite, corrigindo provas. Em meio a uma pilha de papéis, um riso divertido:

2) De onde vinham os escravos? Como era a forma de pagamento?
R: Vinham da África e eram trocados por fumo e água ardente. Isso era chamado de tráfego aéreo.

Aviões no chão, pilotos no céu e a mídia propagando palavras ao léu... Palavras essas que foram parar na cabecinha dos meus alunos.

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Depois de um recesso...

Recesso forçado! Acho que será assim até o final da dissertação... Mas, enfim, consegui passar por aqui hoje e estou pensando em inversão. Talvez seja essa uma palavra em ascensão.
Inversão de valores, de comportamento, na escola, na família, na sociedade, em todos os setores, segmentos... Estamos perdidos em um emaranhado de fios sem nada tecer, sendo engolidos por um temível dragão: o tempo.

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Nó na garganta

Um sinaleiro...
Trânsito? Pedestre? Carro?
Não, uma criança...

_ Professora, olhe que linda minha borracha nova!
_ Que bonita!
(Borracha verde, normal, nada de interessante)
_ Ontem ganhei tanto dinheiro na rua que deu até pra comprar uma borracha.
_ Na rua? Como assim?
_ Pedindo no sinal. Gostou da minha borracha?
_ Adorei.

(...)

....S I L Ê N C I O....

domingo, 12 de agosto de 2007

Pai

Pai,
s.m.,
mão zeloza,
olhar atento,
palavras amigas,
outrora firmes,
desvelo, afetos,
cumplicidade.

sábado, 11 de agosto de 2007

Um sábado de transformações

Ontem fui dormir tarde e já sofrendo por antecipação: acordar cedo para passar o sábado todo no Seminário de Língua Portuguesa. Mas, foi um sábado transformador.

Dentre as palestras e oficinas de pensadores da linguagem como Eleonora Scliar-Cabral e Angela Mari Gusso, tivemos o privilégio - e o desconforto - de ouvir Luiz Percival Leme Britto. Desconforto porque o Percival provocou, instigou, desafiou.

Falou da escrita enquanto instrumento - perigoso! - de poder, de organização social, de expansão da memória, de intervenção no espaço social. E da responsabilidade esquecida pela escola de ensinar a pensar e a refletir sobre a escrita, sobre a língua, tão marcada ideologicamente.

A escola de hoje ensina a escrita algemada ao contexto, que é automática, "irrefletida": ler o nome, placas de trânsito, panfletos e o nome do ônibus É POUCO! Esses são textos que reduzem à decodificação, textos colados ao senso comum, que não exigem reflexão, não transformam.

A educação deve centrar-se não no contexto imediato, esse é somente o ponto de partida. O cerne da aprendizagem deve ser a reflexão, a democratização da cultura e dos saberes, o novo. Transcender a cotidianidade, pensar e intervir: isso é a aprendizagem transformadora, que leva à amplitude da visão de mundo!

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Tratando de poesia

Desenvolvendo um projeto de poesia visual na minha escola, fui alertada recentemente por uma amiga sobre a existência de um poema, na verdade, um meta-poema, que me fascinou. Ars Poética, de Archibald MacLeish, é de uma sensibilidade e concretude que impressionam. Já tenho a sensação de que posso tocar em uma poema, ainda que com os olhos.

A poem should be palpable and mute
As a globed fruit
Dumb
As old medallions to the thumb
Silent as the sleeve-worn stone
Of casement ledges where the moss has grown -
A poem should be wordless
As the flight of birds
A poem should be motionless in time
As the moon climbs
Leaving, as the moon releases
Twig by twig the night-entangled trees,
Leaving, as the moon behind the winter leaves,
Memory by memory the mind -
A poem should be motionless in time
As the moon climbs
A poem should be equal to:
Not true
For all the history of grief
An empty doorway and a maple leaf
For love
The leaning grasses and two lights above the sea -
A poem should not mean
But be.

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Língua mutante

"Flor do Lácio, Sambódromo
Lusamérica. Latim em pó
O que quer,
O que pode
Esta língua?"


Caetano Veloso, Língua. In Velô

Dicionário da Vivi
1- tatu-bola: pessoa que comete algum erro ou engano;
2- quete-quete: conversa, diálogo;
3- gica: não gostar mais de algo, rechaço, ojeriza;
4- barulho: reclamação, discussão;
5- vaca-véia: denominação dada a uma pessoa quando não se concorda com ela;
6- de varde: estar sem nada para fazer.
As demais palavras ainda estão em fase de aprendizagem...

A língua muda no tempo e no espaço, dança, brinca, palpita, enfim, vive.

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Nós que aqui estamos...

No início dessa semana, emprestei um documentário ao meu pai e, hoje, estava em meu quarto tentando planejar meu dia de amanhã quando ouvi uma melodia conhecida...
Não resisti, larguei os livros e fui me deliciar uma vez mais com Nós que aqui estamos, por vós esperamos, de Marcelo Masagão. Entenda, aqui, deliciar como refletir, pensar, chocar.
Trilha sonora primorosa, imagens de arquivos, filmes, reportagens e fotos antigas que falam por si mesmas e algumas frases de efeito conduzem o olhar, em uma viagem no tempo, por um mundo de contradições: destruição e construção, valorização e banalização. Um imenso mosaico é formado por artistas, pensadores e indivíduos anônimos que construíram fatos, e seres sombrios que produziram medo, pavor e miséria, sujando as páginas de nossa história. De um lado Hitler, Stalin, Mussolini, Médice; de outro, Picasso, Freud, Ghandi, Garrincha.
E no emaranhado desses (des)construtores da história está a única imagem filmada por Masagão, que encerra o seu filme-memória: o cemitério. O diretor nos faz refletir sobre o fim, sobre a mortalidade, condição esquecida por muitos no tecer a história.
Título original: Nós que aqui estamos por vós esperamos
País de Origem: Brasil
Ano: 1999
Duração: 73min
Diretor: Marcelo Masagão

terça-feira, 7 de agosto de 2007

Cheiros e afetos

Passando hoje à tarde por um stand de aromas - xampu de camomila, sabonete de pitanga, óleo de baunilha... - recordei de alguns cheiros que me trazem lembranças da infância e contei a Vivi: o cheirinho gostoso da minha lancheira vermelha da Mônica, das ameixas amarelas da chácara do vovô, do feijão cozido às segundas-feiras pela mamãe, da minha bisavó, do batom moranguinho, da boneca meu bebê... Enfim, cheiros trazem afetos!

E foi essa minha relação com cheiros e livros que me fez confrontá-los aqui. Em A Morte em Veneza, obra de Thomas Mann, Gustav von Aschenbach está em crise com a vida austera que levava e decide passar as férias de verão em Veneza. Lá, apaixona-se por um adolescente, Tadzio, que é a representação perfeita da beleza e da inocência sendo, portanto, o contraponto da decomposição física de Aschenbach. Deste modo, a paixão, insuflada por imagens da mitologia grega, vai lentamente dissolvendo a racionalidade e passa a confrontar as duas personagens que representam as contradições do existir: vida e morte, carne e espírito, saúde e doença, eterno e efêmero, começo e fim, belo e grotesco. E parte importante na caracterização destas contradições é o cheiro de Veneza, cheiro esse que invade a personagem, se mescla com os sentimentos da mesma, tornando-se impossível saber se Aschenbach é influenciado pelo cheiro ou se este é apenas uma impressão do acadêmico alemão. Há a fusão da personagem e da ambientação. O leitor de Mann também torna-se capaz de sentir o cheiro pútrido de mar e lama que invade cada página. Esse cheiro representa a decadência do contexto aristocrático europeu, o fim do belo e da juventude, o definhamento de Aschenbach. É o contraponto da beleza irradiada por Tadzio e parece emanar das páginas do livro, sufocando e envolvendo não só Aschenbach, mas também o leitor, entorpecendo os sentidos e, com isso, despertando um novo olhar, provocando, instigando, formando um novo conhecimento do mundo.

Cheiros exalados de livros também afetam...

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Uma invasão alienígena

Na noite de 30 de outubro de 1938, nos EUA, trabalhando num programa de rádio que adaptava livros à linguagem teatral, na CBS, Orson Welles resolveu apresentar A guerra dos mundos de forma ousada e inusitada, algo típico de sua conduta e forma de trabalho. A obra de G.H. Wells, que tinha como enredo uma invasão alienígena em nosso planeta, foi apresentada como uma notícia real, não como um teatro.
Acreditando realmente que seres de outro planeta invadiam a Terra, a população sofreu um grande choque, o que provocou um notável rebuliço: pessoas despedindo-se de familiares pelo telefone, outras molhando as cortinas para evitar a ação dos gases marcianos, correria e pânico nas ruas, choros, fuga em massa para as montanhas ou lugares distantes e um número considerável de pessoas afirmando ver marcianos em todos os lugares.
Então o caro leitor pode vir a pensar: que estupidez! Ou ainda: que ingenuidade dessas pessoas!
No entanto, proponho a reflexão: nossas sensações não continuariam sendo manipuladas pela mídia - agora não somente o rádio, mas muitas -, de acordo com os Senhores-que-pensam-ser-os-donos-do-mundo? Quantos marcianos não são sorrateiramente postos em nossas sábias mentes todos os dias? E você, já foi visitado por um marciano hoje?

sábado, 4 de agosto de 2007

Sexta que já é sábado...

Noite agradável - aquele frio tomou seu rumo. A modorra inicial depois de uma semana de trabalho foi substituída por um "coração cheio de domingo". Afinal, nada como pessoas bonitas, ambiente gostoso, boa música e troca de idéias para começar bem o fim de semana...

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Memória, leitura

"O que diferencia o homem do animal é o exercício do registro da memória humana". Vygotsky
Se a literatura está hoje presente em minha vida é porque somos aquilo que vamos colhendo nos "bosques" que atravessamos. História, de acordo com meu repertório, significa a mamãe nos apresentando lindas enciclopédias para tentar sanar as dúvidas representadas pelos porquês da infância; o papai com seus livros de cabeceira e suas revistas de atualidades e a vovó embalando nossos sonhos de Sábado à noite com os contos de fadas tradicionais ou com os que sabiamente criava.
Visitei também na escola o Menino Maluquinho, uma certa fada que tinha idéias, a Isabel marcada por uma lágrima, o Zezé e o carinhoso Portuga e o Tistu com seu dedo verde. Essas visitas levaram-me a buscar e conhecer novos sendeiros como o senhor Manuel Bandeira, o inestimável Drummond, a senhora Cecília Meireles, a dona Helena Kolody, a senhora Rachel de Queiroz, dentre outros belíssimos autores.
São imagens como essas que povoam minha memória e que acesso quando falo em histórias, leituras. A memória faz parte de todos nós. É construída por fragmentos das situações que vivenciamos, dos caminhos que percorremos, das experiências que temos ao longo da vida. Portanto, a memória pode apresentar semelhanças e diferenças nos indivíduos. E é dela partindo que criamos determinados laços e estabelecemos significados dos livros com os quais nos deparamos nos sendeiros da vida.

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Pessoas e livros: afetos

Estou relendo O pequeno príncipe, desta vez com meus alunos de 2ª série. É a quarta vez que visito essa história e, a cada visita, meus olhos-de-ver-poesia percebem imagens diferentes.
Hoje, por exemplo, lendo uma das minhas passagens favoritas - o capítulo em que a raposa encontra o principezinho - fiz uma relação das rosas com os livros. A raposa diz ao menino-príncipe que a rosa dele é diferente de todas as outras rosas do mundo, porque ele foi por ela cativado. E o pequeno príncipe passa a ver sua rosa com olhos-de-ternura, porque com ela estabeleceu laços, foi por ela afetado.
Assim são as relações humanas e também a relação com os livros: a cada olhar o novo surge por meio do afeto - entenda-se afeto como algo que provoca, de alguma forma - e este novo toma corpo, comove, faz a diferença. Como pessoas que chegam de mansinho - ou já provocando rebuliço - e vão tornando-se essência, os livros que nos afetam tornam-se tão familiares e únicos como a rosa do principizinho e, a cada visita, são redescobertos. E cada despedida, cada adeus dado aos personagens, provoca o choro da saudade, a mesma saudade que a raposa, cativada, sentiu ao despedir-se do pequeno-grande príncipe.

terça-feira, 31 de julho de 2007

....................

"Vazio agudo
ando meio cheio de tudo".

Faço minhas as palavras de Leminski

segunda-feira, 30 de julho de 2007

Fatos, mente e coração

Fatos. Falam por si mesmos, põem rédias, racionalizam,
mostram, denotam, apontam,
indicam, escancaram.
A mente, com capciosa doçura, enreda, inventa,
tece e destece ao seu contentamento.
E o coração - ah, o coração -, este aguarda
com paciência e sabedoria ser ouvido.
É o equilíbrio, a revelação.

domingo, 29 de julho de 2007

Varredura

Varredura... Ouvi esse termo pela primeira vez na aula sobre leitura, na especialização. Foi a mim apresentado por uma colega muito "bacana", de um jeito, no mínimo, singular.
Esse termo é usado na literatura, indicando ao leitor que antes de entrar no texto do livro propriamente dito é preciso passar pela orelha, nota do editor, nota do autor, nota do tradutor, data de publicação, introdução, apresentação, enfim... A varredura é um momento de mexer, vasculhar, olhar sob diferentes ângulos, remexer nos elementos pré-textuais - sim, eles servem para alguma coisa!
Hoje acordei pensando... Deveria estender esse termo para a vida.

sábado, 28 de julho de 2007

"Miguilim" de Guimarães Rosa chega à tela em Cannes

Miguilim é o personagem encantador do conto "Campo Geral", do livro Manuelzão e Miguilim, de J. G. Rosa. O enredo desenvolve-se a partir do olhar do menino sobre a vida no sertão de Minas Gerais, na sua relação com a mãe, com o pai, com a avó e, principalmente, com seu irmão Dito. A história é tecida com o apuro da linguagem típico das obras roseanas e, confesso, é uma das minhas preferidas, por tratar de sentimentos delicados e profundos num enredo simples e, ao mesmo tempo, tão elaborado.
Fiquei surpresa quando vi que meu o livro-do-coração irira ganhar uma adaptação cinematográfica. Primeiramente, fiquei ansiosa por ver a tradução do livro a uma outra linguagem. Mas, depois, refleti se realmente quero ver a adaptação realizada pela diretora Sandra Kogut, intitulada Mutum, espaço onde a história roseana se passa. Minha memória está povoada por meu Miguilim, pela cena tão viva e comovente da despedida do Dito e seu irmão, pelos Buritis e pelo Mutum que foram por mim criados a partir da narrativa tão rica do Guimarães... O livro é um engenho de fazer pensar... Daí minha dúvida em assistir ao filme. E se ele apagar minhas memórias e impressões, o meu Miguilim?

sexta-feira, 27 de julho de 2007

Um pouco de dona Cômoda hoje...

"Dona Cômoda tem três gavetas. E um ar confortável de senhora rica. Nas gavetas guarda coisas de outros tempos só para si. Foi sempre assim, dona Cômoda: gorda, fechada, egoísta".

Mário Quintana

quinta-feira, 26 de julho de 2007

Leitura e memória: toda teoria é seu acessório da biografia

(...)
Quando lemos um livro, um quadro, um filme, uma peça, um musical, enfim, um texto, deparamo-nos com alguns sinais que emanam uma motivação e que nos fazem acionar a memória, criar laços com a alma, com o coração. Esse acervo de histórias que fica em nossa memória nos faz refletir sobre o que lemos. Com a leitura, colhemos conhecimentos que são armazenados na memória; assim dá-se a interpretação, assim atribui-se à memória a condição de herança valiosa, que é renovada a cada dia. E como a memória de cada indivíduo conta com determinadas lembranças, cada leitor visita um texto de um modo, descobrindo nele diferentes tesouros. É como Helena Kolody diz sabiamente em um de seus poemas: no poema e nas nuvens, cada um descobre o que deseja ver. Abrir um livro, ver um filme, ouvir uma música, apreciar um quadro, é deixar aflorar as muitas malas contendo as bagagens da vida. É acessar memórias pessoais e coletivas e renová-las. É ler com olhos-de-ver-o-mundo, buscando o novo a partir da herança viva que se traz nas veredas da memória que, segundo Jacques Le Goff, em seu livro História e memória (1996), “é um elemento essencial do que se costuma chamar identidade, individual ou coletiva, cuja busca é uma das atividades fundamentais dos indivíduos e das sociedades de hoje, na febre e na angústia”.

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Sala de aula

Volta das férias, alunos esperando no pátio ansiosos por um abraço, o que é o marco do início de mais um dia, de mais um semestre.
_ Cadê a chave da porta? Eu abro! (A professora esqueceu, ela sempre esquece de alguma coisa!).
_ Posso organizar o calendário? Hoje sou eu o ajudante.
_ A história... É hora de você contar O pequeno príncipe, esqueceu, professora?
_ Vamos fazer tarefa? Quero usar o caderno.
_ Eu sabia isso da centopéia não ter cem pés!
_ Quem já terminou? Está vendo, professora, mais da metade da sala, pode dar mais coisas pra gente fazer.
_ E o jornal? Temos que terminar, lembra, professora? É hoje que vamos gravar? Nãããão! Ah!
_ Onde está a caixa de cartas? Tenho uma pra colocar nela.
_ Não, não escreve com letra de forma. Você disse que depois das férias só usaríamos a manuscrita.
_ Faltaram dois alunos hoje. Então, somos em 26, porque a Kalwany foi embora... (Saudades).
_ Vamos cantar? A do homenzinho torto, agora.
_ Que bom! Vai ter tarefa pra casa!
_ Nossa! Já é hora de irmos embora? Não vai dar tempo da Rosa juvenil...
E assim, termina mais um dia de gostosuras e diabruras, de gostinho-de-é-isso-que-me-encanta. Que bom que amanhã tem mais.

terça-feira, 24 de julho de 2007

Voando

Voltando das já saudosas férias, passei por dois aeroportos. Alguns vôos atrasados, outros dois cancelados, mas saguões, corredores, poltronas, tudo propagando calmaria. Não havia gritos, nervosismo excessivo, palavras insanas, nada do habitual estado de ânimo visto por nós, espectadores, diariamente na telinha. Fica a questão: o quanto somos fantoches da mídia?

segunda-feira, 23 de julho de 2007

Mais uma viagem, novas impressões

Diferente. Sim, diferente, ainda que no mesmo país. Outros olhares, modos distintos de ler o mundo. Jeitinho mineiro de falar, grande muvuca de ônibus nas ruas, de muitas cores, mas sem-nomes, com-números. Pão de queijo a cada esquina, pão de sal nas padarias, o pirulito como ponto de referência aos turistas perdidos - no caso nós! Esperar o ônibus no meio da avenida, pagar 2,00 ao trocador e ver a lagoa no fim da tarde. E sair do hotel pela manhã, caminhando pelas ruas de BH já há muito povoadas, em busca do 8203 ou 8208, carregando nos braços uma blusa e na bolsa uma sombrinha, ainda que esteja quente. Olhar curitibano, tão arraigado em nosso ser, mesmo em outra terra, com outra gente.

Blog?

Blog sim . O primo Rafa deu a dica na noite dos netos, li o blog dele, gostei. Até quando? Não sei...
Ou melhor, sei... Até vir uma outra fase, e a tecelã descobrir outros fios. Afinal, isso é viver: um eterno movimento de ir-e-vir, o enredar e desenredar histórias, como bem coloca Guimarães.