terça-feira, 26 de junho de 2012

Uma música, doces lembranças...

No palco, acompanhado de uma orquestra primorosa, Milton Nascimento canta suas canções doces, intensas, poéticas. E, de repente, anunciada pelos acordes dos músicos, concretiza-se na voz do poeta aquela canção que tocou numa noite especial, noite essa que marcara o fim de um tempo tão bom que hoje só vive na memória. Os sentimentos de outrora foram despertados ali, no teatro, durando a efemeridade da música, do primeiro ao último acorde. Grandes amigos, a quadra da escola, a pracinha, os geladinhos no bar, os ovos que marcavam a passagem do ano, o basquete, as paixões, as tardes de sexta-feira, as brigas, os risos, os choros, a subida do Colina Verde, os segredos, tudo passando velozmente pela memória, marejando os olhos... Um tempo que não volta, que deixou saudade, mas que, sem dúvida, ainda é tão parte de mim. *Esse texto é para vocês, amigos, que compartilharam esse tempo bom.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Leitura, memória, livros e afetos

***Transcrevo aqui o texto publicado no Midiaeducação (http://midiaeducacao.com.br/?p=9360) Um convite para escrever não poderia resultar em outro assunto senão leitura, minha grande paixão. É sobre o entrelaçamento de leitura, memória, livros e afetos que vou tecer algumas linhas aqui. Se a literatura está hoje presente em minha vida é porque somos aquilo que vamos colhendo nos “bosques” que atravessamos. História, de acordo com meu repertório, significa a minha mãe nos apresentando aquelas enciclopédias pesadas e cheias de páginas para tentar sanar as dúvidas representadas pelos porquês da infância; o meu pai com seus livros de cabeceira e suas revistas de atualidades e a avó querida embalando nossos sonhos de sábado à noite com os contos de fadas tradicionais ou com as histórias de ar que inventava. Já na escola, visitei o Menino Maluquinho, uma certa fada que tinha ideias, a Isabel marcada por uma lágrima, o Zezé e o carinhoso Portuga e o Tistu com seu dedo verde. Essas visitas levaram-me a buscar e conhecer novos sendeiros como Manuel Bandeira e o gostoso ritmo de seus poemas, Drummond e os ombros que suportam o mundo, a sensibilidade de Cecília Meireles, a poesia mínima de Helena Kolody, o doce e sofrido Miguilim de Guimarães Rosa, dentre outros tantos autores, personagens e obras que me fizeram sorrir, chorar, amar e até mesmo odiar. São imagens como essas que povoam minha memória e que acesso quando falo em histórias, leituras. A palavra história fica grávida de significados quando busco na memória recordações passadas, mas também presentes. Isso porque memória não é simplesmente um passado, um ponto final, um fim em si mesma. A memória é construção, está em constante renovação. A cada nova leitura realizada, a memória é também renovada. Nela, os livros que nos desafiam, que nos afetam de alguma forma, vão morar. E ali ficam adormecidos, para despertarem com o mais delicado sussurro, provocando mais uma vez os sentimentos – ora outros, ora os mesmos. Quando lemos um livro, um quadro, um filme, uma peça, um musical, enfim, um texto, deparamo-nos com alguns sinais que emanam uma motivação e que nos fazem acionar a memória, criar laços com a alma, com o coração. Esse acervo de histórias que fica em nossa memória nos faz refletir sobre o que lemos. Com a leitura, colhemos conhecimentos que são armazenados na memória; assim dá-se a interpretação, assim atribui-se à memória a condição de herança valiosa, que é renovada a cada dia. E como a memória de cada indivíduo conta com determinadas lembranças, cada leitor visita um texto de um modo, descobrindo nele diferentes tesouros. É como Helena Kolody diz sabiamente em um de seus poemas: no poema e nas nuvens, cada um descobre o que deseja ver. É por isso que a literatura liberta e nos convida a grandes voos, voos de águia. Abrir um livro, ver um filme, ouvir uma música, apreciar um quadro, é deixar aflorar as muitas malas contendo as bagagens da vida. É acessar memórias pessoais e coletivas e renová-las. É ler com olhos-de-ver-o-mundo, buscando o novo a partir da herança viva que se traz nas veredas da memória, é tecer as palavras liberdade, transformação e identidade – ave palavra! – com todos os seus significados, no coração e na memória. Ler é criar uma grandiosa teia de afetos que transformam o ser num contínuo e sempre novo ir-e-vir. É por isso que tenho a literatura como uma grande paixão.

sábado, 17 de março de 2012

Dia em mim

Com o dia sendo anunciado
lá fora, pela luz da manhã,
seus braços me envolvem num abraço
e seus lábios tocam docemente os meus.
E assim, o dia lá fora
faz dia também em mim.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Embrulhos


Os embrulhos
feitos lindamente
de papel pardo
e laços de barbante
chegaram essa semana
de mansinho, de surpresa
pelo correio da vida
para fazer recordar
que é preciso coragem
esperança, utopia e sonhos
que é preciso amor
crença, paixão e afetos.
Os embrulhos?
Já guardados
calentando o coração.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Lua, hoje...


Às vezes a lua no céu parece ganhar um sentido um tanto diferente aos olhos de quem a observa aqui embaixo, com os pés no chão. A lua afaga a alma, alumia o coração, desperta os sentidos, provoca o desejo pelo desconhecido, pelo mistério da vida. Cheia de si, plena, faceira, passeia pelos olhos e provoca suspiros, afetos, paixões lá do alto, tão alto, fazendo os pés deixarem - ainda que momentaneamente - de tocar o chão.