sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Ritos


Aquela saudade da aurora da minha vida, da minha infância querida, dos anos que não voltam mais invadiu meu ser. Cheguei na escola e fui rodeada por meus alunos, todos com canetas nas mãos e sorriso nos lábios e nos olhos. Queriam que eu assinasse a camiseta para que guardassem de recordação - ainda que não saibam exatamente o que essa palavra significa.
Bastou meus olhos abraçarem essa cena para o coração conversar com a memória e dias bons - muito bons! - tomarem conta da alma.
Fim do ano, alívio pela aprovação, alegria anunciando as férias na praia e o gostinho de saudade dos amigos que pareciam ser eternos e dos dias que foram embora. Fim do ano anunciando a chegada sorrateira do outro, fim de uma etapa. É exatamente aí que entra o rito de passagem: assinatura de camisetas, amigo secreto (não tão secreto assim), choro, boletins, alegria e, claro, dúzias e dúzias de ovos com muita sujeira.
Mudaram as estações, mas nada mudou... Fomos surpreendidos pelo novo século, mas muitos dos ritos permanecem. Saí da escola pisando, literalmente, em ovos - ou o que sobrou deles.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Prazeres

Prazeres...
O início do filme O fabuloso destino de Amélie Poulain (2001) desperta todos os sentidos para "aquelas coisinhas" tão especiais que nos dão prazer, que alegram os olhos, inundam a alma de bem-estar. E aquela corriqueira frase é reafirmada: o prazer está nas coisas mais simples.

Sentir o vento no rosto, embalando os cabelos. Ligar o rádio e aquela música inundar o ambiente. O calor do sol esquentando os dias frios de Curitiba. Acordar na praia. A cama aconchegante depois de levantar tão cedo e ter um dia daqueles. Afogar as lágrimas no travesseiro, espantando toda a tristeza. Descobrir um livro que aquece a alma. Receber um elogio sincero. Ouvir um "bom dia" no elevador. Ganhar um abraço de manhã cedinho. Receber o sorriso de um estranho. Encontrar um amigo de forma inesperada. Um beijo cobrindo os lábios. Noite de Ano Novo. Conhecer lugares novos. O encontro de olhares. Rir até doer as bochechas. Receber um mimo. Visitar lugares já conhecidos e descobrir que ainda há tanto a descobrir. Ouvir "eu te amo". Ganhar múltiplos abraços dos alunos. Acordar cedinho e descobrir que é sábado. Conversar de madrugada. Ouvir o irmão tocar violão. Passos de dança. Chocolate e coca-cola. Descobrir que ainda é cedo e você tem mais 10 minutos. Receber uma carta. Telefonema da avó. Cortina de fuxico. Cheiro de café. Café com as amigas. Olhar fotos. Afeto. Tecer a vida.

domingo, 23 de novembro de 2008

Záz!

Lépido, borboletante,

Como um raio de luz

Atravessa a vida

Tornando-a efêmera.


E záz!
Tudo passou.

domingo, 16 de novembro de 2008

Depois da semeadura...

Sei que não é muito modesto de minha parte, mas receber um elogio assim no final do ano, após um longo tempo de semeadura é tão bom!
Recebi esse presentinho em letras coloridas, brilhantes e cheirosas da Jaqueline Ortiz.
Receita para ter uma profª igual a minha
Ingredientes:
Meio barril de chocolate
um barril de inteligência
um barril de beleza (pura)
um fio de cabelo loiro
um barril de bom humor
Modo de fazer:
Numa panela (grande) coloque a beleza e o chocolate. Deixe por 30 minutos na geladeira. Misture a inteligência e o fio de cabelo na tigela junto com a outra mistura. Coloque para assar e depois jogue o bom humor por cima.
Você não vai se arrepender! É muito bom ter uma professora assim!

domingo, 9 de novembro de 2008

Alguém tem pó-de-pirlimpimpim?

Momentos com sabor de quero-mais, tão efêmeros como a vida das borboletas, velozes como as asas do beija-flor. Cresce a saudade e a vontade de sentir, ter, ouvir, ver, tocar mais e mais. A vida, no entanto, nega-se a ser um conto-de-fadas, a abóbora é apenas uma abóbora, o pó-de-pirlimpimpim fica bem guardado nas páginas dos livros e o tempo diz num sopro breve: adeus...

sábado, 8 de novembro de 2008

Cresceu? Azar é o seu!

Sim, bobagem, mas uma bobagem gostosa...
Escrever no caderno de confidência das amigas era uma dessas bobeiras boas. Olhar o que os meninos escreveram - principalmente "aquele" especial - era melhor ainda.
Sozinha em casa pensando na melhor resposta (ser honesta ou contar uma mentirinha?) ou rindo muito com o grupo, os caderninhos marcaram época.

* Qual é o seu nome? Deisily
* Sua comida preferida? Strogonoff
* Sua banda favorita? Legião Urbana
*Cor preferida? Azul
* De quem você gosta? Ah, é segredo!

Não há dúvidas: era muito mais divertido e afetivo responder essas perguntas do que os questionários-de-gente-grande:

* Nome completo
*RG
*CPF
*Título de Eleitor
*Certidão de Nascimento
*Telefone
* Telefone para recado
Transformação: de gente a número.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Reminiscências

Queria saber escrever. Desenhar com letras no papel branco as tardes de sexta-feira, o cheiro das árvores e a textura da bola laranja que inundavam meu ser há pares e pares de anos que ficaram no passado.
Um jogo, um toque, um olho-no-olho com a rapidez de um raio, um rubor, um beijo. Tudo agora morando no tempo que passou.
Tinha também uma bolsa, tão pequena, que mais parecia uma cartola mágica: dela saíam batom, escova, toalhinha, água, papel, caneta, bala, chicletes... Há muito não vejo a bolsa. Acho que com ela estão as tardes, essas tardes que ficaram em algum lugar do tempo.

domingo, 12 de outubro de 2008

Olhos azuis

Olhos azuis , de 1996, é um documentário sobre diferenças: raça, sexualidade, gênero. Jane Elliot, professora, reúne um grupo de pessoas para ministrar um workshop e combina com o grupo tratar de forma discriminatória todas as pessoas que têm olhos azuis. Ao conduzir a experiência dos grupos, Elliot evidencia o racismo, a falta de tolerância com as diferenças, os fenômenos de grupo, a liderança, a submissão voluntária, pondo em discussão quem são os líderes da sociedade e como estes são perspicazes, tornando a maior parte da população submissa às idéias de uma elite manipuladora.
Blue Eyes
Ano: 1996
Duração: 93 minutos
Direção: Bertram Verhaag

domingo, 5 de outubro de 2008

O livro dos abraços

O livro dos abraços veio numa mensagem de um amigo querido, uma mensagem que deixou aquela vontade de ler. Ontem, folheando o livro, encontrei uma preciosidade: os ninguéns.
Os ninguéns são aqueles...
"Que não são, embora sejam.
Que não falam idiomas, falam dialetos.
Que não praticam religiões, praticam superstições.
Que não fazem arte, fazem artesanato.
Que não são seres humanos, são recursos humanos.
Que não têm cultura, e sim folclore.
Que não têm cara, têm braços.
Que não têm nome, têm número.
Que não aparecem na história universal, aparecem nas páginas policiais da imprensa local.
Os ninguéns, que custam menos do que a bala que os mata."

O livro dos abraços. Eduardo Galeano.

sábado, 4 de outubro de 2008

Ensaio sobre a cegueira

Estranhamento. Foi exatamente o que senti quando o filme iniciou. Então, o estranhamento cedeu lugar à raiva, ao nó na garganta, à sensação de sufocamento. Olhos fixos na tela, no colorido, no negro e no branco das imagens. O eterno conflito do espiritual e do material que compõe a essência do ser humano invade as personagens, e nós, espectadores, nelas nos reconhecemos. Esse reconhecimento incomoda. Um casal deixa a sala.
Instinto e razão, cotidiano e sublime, cegueira e conhecimento. Somos um emaranhado de sentimentos duos, duplos, ambíguos, complexos. E o filme é um retrato dessa tamanha "humanidade", desses fractais que nos constróem.

Elenco: Julianne Moore, Danny Glover, Alice Braga, Mark Ruffalo, Gael García Bernal, Don McKellar, Maury Chaykin, Martha Burns.
Direção: Fernando Meirelles
Gênero: Drama
Duração: 120 min.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Nascimento

O trem saiu de mansinho e foi sumindo no nevoeiro que pintava a manhã de algodão. O frio adentrava o vagão cada vez com mais intensidade, à medida que as casas davam lugar às árvores. E com o crescer do ritmado som vindo dos trilhos, o sonho foi tomando conta do pensamento, que trazia sorrateiro o tudo-que-já-foi emaranhado com o tudo-que-virá-ser. Foi desse emaranhado que nasceu a idéia toda azul, que logo criou asas e seguiu, livre, num vôo pela imensidão.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Uma infância, um quadro

Entrei no museu e, no meio de tantas pessoas e línguas, estava sozinha, pensamento galopando em algum lugar. Os olhos percorriam tudo brincando, tentando convencer a memória a guardar cada pedacinho do novo mundo. Os pés passeavam lépidos, numa ida-e-vinda por corredores e salas até que, subitamente, pararam. O coração acelerou, a memória voltou alguns anos, os olhos sorriram. Era o meu quadro! O quadro da minha infância, onde me reconhecia na menina de vestido claro e me imaginava no jardim, alegre, talvez brincando de bom-barqueiro, como a vovó ensinara. O quadro, a praia, as noites conversando com a avó, paciente e doce, os passeios noturnos no Brejatuba. Época de brinquedos e folguedos, em que Monet ou Mulheres no Jardim não faziam parte do acervo. Era simplesmente o quadro da casa da praia da vovó, com o jardim em que eu ousava sonhar brincar.

sábado, 16 de agosto de 2008

Tempo, temp, tem, te, t, ...

O olhar pousa sobre a novidade, o inusitado. A boniteza enche os olhos e tudo é música. A cada dia, os olhos alcançam mais e mais longe. A cada dia também o coração se enche de saudades. Saudades do conhecido, da rotina, do porto-seguro. Vem o retorno. E com ele a constatação de que o tempo não parou. Uma farmácia mudou de nome, uma casa foi construída, uma obra foi terminada, outra rua foi aberta. O tempo, aliado e inimigo, certeiro, matreiro, anunciando o muito que já foi e o muito que virá.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

España

Tudo diferente! A língua, a paisagem, o céu, as pessoas, as vozes denunciam um outro modo de viver e o desconhecido vai se tornando, lentamente, um pouco conhecido. Enquanto isso, sigo andando por terras nunca antes por mim pisadas, anônima.
Aqui, 17:45.

sábado, 31 de maio de 2008

Lampejos de memória

Entrou naquela casa escura, de portas e janelas fechadas e não mais saiu. Via pequenos fachos de luz adentrar as frestas, o que dava uma certa noção do tempo que ia passando. Via o dia e a noite, num movimento que parecia não ter fim. Via o tempo, mas não o sentia, não o vivia.
Na casa, tudo parecia igual: móveis antigos, chão de madeira escura, cortinas de setim pardo e o cheiro de mofo adentrando a narina e todos os poros do seu corpo franzino. Sentou-se em uma poltrona e ali deixou-se ficar por horas, dias, talvez anos.
Como companhia tinha a memória. Tudo o que um dia viveu, ouviu, viu, sentiu estava ali, insistentemente. E o tempo passava, mas parecia haver parado no momento em que pisou a casa escura. Reviveu as memórias, naquela mesma poltrona, até o dia em que não pode mais lembrar.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Um dia daqueles

Caminhando devagar, sentindo o fraco calor do sol, levando nas mãos o trabalho de 2 anos. Adentra o prédio tão familiar, um emaranhado de acontecimentos passam nos olhos da memória.
Décimo andar, recepção calorosa e palavras de calma e conforto. Meia hora, o nervosismo cede sabiamente seu lugar à calma; uma hora, ouvidos atentos; uma hora e meia, troca de idéias; duas horas, fim das reflexões; duas horas e meia a notícia de que os dois anos valeram...
E no caminho de volta, a sensação de
Ir deixando a pele em cada palco
E não olhar pra trás
E nem jamais
Jamais dizer
Adeus.

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Arco-íris


Saímos da sala rumo ao portão da escola, todos em fila. Olhos no horizonte... Um arco-íris! Mas um arco-íris daqueles grandes, que enchem os olhos... Ainda acho que no fim dele há um pote de ouro...

domingo, 27 de abril de 2008

O tempo não pára


Os diferentes verdes dos campos enchem os olhos. Campos esses cortados por asfalto. Um caminho familiar, que traz recordações.
Manhã de sábado, acordar cedo, pegar a bagagem, tomar um comprimido para não enjoar e partir. Partir para a paisagem da minha infância. Almoço da vovó, esperar a sobremesa e ficar mais feliz quando era a preferida: pavê. Depois, sair pelas ruas de paralelepípedo, a pé ou de bicicleta. Passear na praça da cidade, ir ao ginásio de esportes ver algum jogo, abrir a torneirinha dos caminhões, tocar a campainha e sair correndo. Mas o mais divertido era ir à chácara do avô. Lá era onde as brincadeiras corriam soltas, onde passávamos a tarde toda comendo frutas do pé e tomando café na casa da dona Maria, mesmo tendo ordens expressas do avô para não misturar frutas com café. No fim do dia, a acolhida da avó, o "direto para o banho" regado pela bronca das mães, o cansaço gostoso, a gemada antes de dormir e... de repente, 20 anos se passaram.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Tem festa no céu


Hoje tem festa no céu. Foi assim que a homenagem do papai começou, foi assim que o tio querido escreveu na coroa, foi assim que todos pensamos. Tristeza na Terra, festa no céu.

Titia amada partiu. Sorriu até o último momento, por isso, estou agora sorrindo enquanto lembro dela.

Muitas pessoas foram se despedir, pessoas essas que por ela foram afetadas, envolvidas por seu riso fácil e mágico, por sua imensa alegria de viver.

Agora, fica a saudade. Sem dor, porque a tia Beli-boa-intrusa-na-noite-dos-netos, a Bel, a Maria, a Isabel, a Marry da vovó, jamais provocaria qualquer sentimento triste. Ela é a alegria! Sim, tem festa no céu. E no coração, fica guardadinha a festa que ela fez nas nossas vidas, sempre.

domingo, 30 de março de 2008

Salmo 91

Sarcasmo, humor, performance e texto impecáveis. Foi o que vi na peça Salmo 91 do Festival de Teatro de Curitiba, uma adaptação do livro Carandiru, de Dráuzio Varela.
A vida-morte dos presos naquele que foi o maior presídio da América Latina é retratada em 10 cenas. Cada uma delas apresenta uma personagem, retratando suas virtudes e crimes por meio de monólogos que dão às palavras um sopro de força, de revolta, de conformação fingida. A palavra se sobrepõe à ação, já que num espaço de confinamento é a palavra o que resta aos presidiários.
Interligando as 10 cenas como uma grande colcha de retalhos, aparece a bola, ora como personagem, ora como objeto, relembrando a final do campeonato de futebol que pode ter sido o estopim da rebelião e do posterior massacre no Carandiru.
Sem dúvida, o público curitibano foi presenteado na noite de sábado com uma peça que conta com um enredo e atuações primorosas, que despertam todos os sentidos do espectador com a força da palavra, o impacto da verdade e dos mais assustadores comportamentos do ser humano, o cenário, o figurino, a atuação, o aroma do café, o cheiro do cigarro, o gosto da cabeça de um rato e as dores físicas e morais, tudo tão próprio de um ambiente hostil e repleto de gente que traz inerente ao ser crimes, sofrimento, iniqüidade, vontades, desesperança, instinto de sobrevivência e fé.
"AQUELE que habita no esconderijo do Altíssimo, à sombra do Onipotente descansará".
Ficha técnica:
Direção: Gabriel Villela
Elenco: Pascoal da Coceição (Dada e Veio Valdo), Pedro Moutinho (Charuto e Valente), Rodrigo Fregnan (Nego-Preto e Zé da Casa Verde), Ando Camargo (Zizi Marli e Edelso) e Rodolfo Vaz (Bolacha e Veronique).

sábado, 29 de março de 2008

Afetar!


Encontros inesperados são os melhores que existem. Pensei em algo assim quando saí hoje da PUC. Uma surpresa, um mate batido e a conversa que, entre novidades e descobertas, sempre se repete num constante vai-e-vem. Falar de afeto depois de vivenciá-lo em algumas aulas com as formadoras-de-leitores-afetivos é sempre um imenso prazer, adocicado pelas lembranças que povoam a memória. Mesmo que seja uma certa lembrança daquela que foi Lupe por um dia, dizendo que meu casaco se parecia com uma cortina de cozinha...

domingo, 23 de março de 2008

Receita de viajar no tempo


andar para trás para trás para trás
dar a mão para a mãe para a avó-bisavó
feche os olhos abra os olhos feche e abra
a porta da roda da morte e da vida
essa é a dança ciranda do tempo
entre na água no meio do vento
e semeie futuro em terra azul

(Roseana Murray)

sábado, 8 de março de 2008

Leitura


“Minha professora incentiva a leitura porque os olhos ficam brilhantes, o rosto se enche de vida, os passos ficam mais leves, descobrimos a alegria de ler e o conhecimento entra em nossas vidas”.
Bianca Gunha Mendes - 9 anos


“Minha professora incentiva a leitura porque no futuro teremos um mundo melhor com muita imaginação e criatividade”.
Jaqueline de Souza Ortiz - 9 anos

Tricotando a vida


Acordei hoje com o coração cheio de domingo. Uma alegria incontida, acho que tive bons sonhos. Deparei-me agora com uma imagem tão bonita, desenhada com letras pela Fina Flor. A avó tricotando idéias despertou em mim algumas lembranças que estavam adormecidas.

Também tenho uma avó que tricotou momentos doces da minha infância. E tricota dias bons até hoje. Foi por suas mãos que adentrei o mundo do faz-de-conta da literatura, quando as noites de sábado em sua casa eram embaladas por contos de fadas e histórias que ela criava, assim, repentinamente. Com sua voz doce, narrava aquele mundo imaginário que transforma, assusta, encanta. E é ainda pelas mãos da minha avó que recebo muitos dos livros que tenho visitado. Essa avó que tricota colorido a colcha de retalhos que é a vida.


domingo, 2 de março de 2008

Brasil

Duas vezes o assunto foi colocado em pauta na conversa descontraída de sábado. Primeiro, durante a caminhada no Parque Barigüi, depois, na divertida noite que teve dois endereços -Hora Extra e Bagdá Café. É possível falar em apenas um aspecto típico do Brasil, sem cair na falseta do estereótipo? Qual é a comida típica brasileira? Feijoada? Qual é a dança representante da cultura brasileira? Samba? E a festa, carnaval?
Cada canto do nosso imenso Brasil tem seus costumes. Difícil pensar em uma comida, uma dança, um ritmo. Até mesmo o carnaval, reconhecido internacionalmente, é diferente em cada região. Isso sem falar nas regiões onde praticamente inexiste - caso de Curitiba.
Bacana isso. Vivemos num imenso emaranhado cultural. As linguagens são múltiplas, as cores variadas e a cultura diversa. Tudo isso numa terrinha chamada Brasil.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Hasta pronto...


Saudade cresce
no coração,
lágrimas invadem
os olhos, sem permissão,
mas a certeza do
reencontro
diz ao espírito,
num sopro de ternura:
"até breve".

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Nos olhos, no coração

Meus olhos e meu coração me contaram. A avó (doce, sempre!) abriu a porta. Beijos e abraços nos primos, tios, avós. A mesa coberta de comida jovem, como alguém bem disse: pão, hambúrguer, refrigerante e bolo de chocolate. Ah, e suco para o primo que não-bebe-mais-refri. Os pais vão embora e ficam os avós e os netos - esses são 10. Lembro bem quando, na minha infância, eram só 5. Fica também a tia-boa-intrusa. Começa, então, o jogo de perguntas do avô: qual é a capital da...; quantos anos vive um...; qual é a moeda usada no...; como se chamava a..., e assim por diante. Acho que nesse ano fomos melhores, sinal de que saberes foram acumulados. As mulheres ganharam. Não, todos ganharam na verdade. Ganharam no jogo da vida, da convivência, da boa conversa, do afeto e das lembranças que nos unem para aquele sempre de hoje em dia. E tudo termina com arroz, feijão e muito, muito bife à milanesa. E também com a promessa de um "até breve".


... porque tudo acaba mesmo sempre em despedida...

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Vida














Levada assim
com toda a leveza;
a vontade de ir
suave e verdadeira
voando para ver tudo
com aqueles olhos-de-ver-poesia.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Tempero da vida

Dia bom. Depois de um gostoso churrasco, uma tarde de jogos, risos e boa conversa. Desenhos, adivinhações, baralho e música... Essa tarde trouxe a recordação dos saraus de um tempo que já foi, aqueles que são descritos em A moreninha, de Joaquim M. de Macedo. Às vezes, acho que não pertenço a esse tempo, queria ter vivido esse momento histórico cheio de coisinhas singelas, repleto de cortesia, de boa educação, de pequenos atos que divertiam e enriqueciam os dias. A história anuncia sempre um novo tempo, uma nova tarde, novos costumes e modos de ser. Acho que o agora é um tempo de resgatar a cortesia, a boa convivência, o respeito e a delicadeza, ingredientes de fundamental importância para o tempero da vida.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Medéia, uma heroína

Eurípides, um dos ícones da tragédia grega, apresenta personagens que nada tem de passíveis diante do destino. Suas figuras "vivem atormentadas por sentimentos intensos e dolorosos, que as fazem beirar os limites da loucura". (Teatro vivo, 1976, p.VIII). Ou seja, prevalece em suas personagens "o que há de ridículo, sórdido, e tudo que é repreensível nos humanos". (LOPES, 1999, p.28).
Assim é Medéia. Uma mulher que representa o ser completo e complexo, inteiramente humano, com capacidade de escolha e decisão, e tão suscetível a errar como qualquer outro ser humano. Seus atos de maldade parecem encontrar uma justificativa na traição de que foi vítima, no sofrimento que dela se apodera, no duplo crime de Jáson: o perjúrio – pois lhe jurara amor eterno – e a ingratidão – pois lhe abandonara sem recompensá-la da ajuda passada. Essa justificativa retira da personagem o estigma de "má", tornando-a apenas uma humana passível dos mais diversos sentimentos. A personagem trágica comete uma falha, porém, não é uma falha de caráter. Não há o "bem" e o "mal".
A vingança de Medéia deverá satisfazer a cólera que a consome aos poucos. "Nesse sentido, a mulher assume dimensão heróica, aproximando-se dos grandes heróis que, feridos na honra, alimentavam a vingança, pois não suportam a vergonha e o riso dos outros". (HIRATA, 1991, p.12).Neste sentido, aproxima-se do herói épico. Porém, como mulher, não faz o uso da força bruta ou de armas, mas "serve-se de palavras, da dissimulação, serve-se da sabedoria para enganar". (HIRATA, 1991, p. 17). Usa a linguagem dos heróis e o poder da retórica.
Medéia tem também a sua trajetória enquanto heroína. Apresenta-se no início da peça passiva, ultrajada, mas já forte no discurso e, no decorrer desta, passa à ação, em atitude altiva. Mostra-se todo o tempo ciente e consciente de seus atos, não sendo tomada por armadilhas do destino, mas por suas próprias ações e escolhas. Em Eurípides, "não há mais indícios que unam as ações do homem às diretrizes divinas. O homem é o centro absoluto da ordem universal: o destino humano nasce de seus próprios sentimentos e ações". (ARNS, 1995, p.05).
E, como não poderia deixar de ser por influência do sofismo, Medéia é uma heroína ambígua, apresentando diversas facetas: Medéia mulher, Medéia mãe, Medéia bárbara e Medéia vingadora. É, portanto, uma heroína com complexidade humana, suscetível aos conflitos humanos, que tem como o último ato de sua biografia a partida, com o auxílio do deus sol, (deus ex machina), reconciliando-se, portanto, com o mundo e restabelecendo a ordem que fora abalada.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

O anjo azul

Hoje, final da tarde, assisti ao filme "O anjo azul", de Der Blaue Engel. Gravação antiga (1930), ainda que em DVD, apresentou uma imagem não muito nítida e o som um tanto repleto de chiado. Ainda assim, o enredo é primoroso e entre o preto e branco das cenas, os cortes um tanto rudimentares para os dias de hoje e a tradução horrorosa, há uma história triste, sobre a decadência humana.
No filme, Immanuel Rath (Emil Jannings) é professor de Literatura Inglesa num Colégio e é respeitado e temido pelos alunos. Certo dia, descobre que seus alunos estão freqüentando o Anjo Azul, o cabaré onde se apresenta Lola (Marlene Dietrich). O professor vai até a boate para surpreender seus alunos e acaba fascinado por Lola. Nesse instante, começa a decadência de Immanuel: estando com Lola, rompe com os padrões e costumes estabelecidos pela sociedade, deixando de ser respeitado por seus alunos e sendo afastado da escola. Casa-se com a dançarina e segue Lola e os colegas desta na realização de shows. Abandona a ordem social vigente e passa, como sua esposa, a viver à margem da sociedade. No entanto, sofre com isso, sente-se desmoralizado e, quando retorna à sua cidade natal para nova apresentação no cabaré Anjo Azul, sente tamanho desgosto por rever seus conhecidos e certificar-se de tudo o que precisou abdicar para se casar com Lola. Então, caminhando com dificuldade, segue até a escola onde lecionava e morre sentado na sua mesa, em sua sala de aula, o que demonstra que jamais conseguiu deixar o mundo burguês do qual fazia parte.
Título: O anjo azul
Ano: 1930
Duração: 94 min.
P.S. Preciso fazer um comentário... Foi impressionante observar o respeito que o professor tinha não só dos alunos, mas da sociedade. Bons tempos!!

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Festa de família

Aniversário do vovô. Com o cair da noite, a reunião familiar na casa da vovó. Lá, entre coca-cola, bolinhas de queijo e um bolo de chocolate delicioso, rostos conhecidos e queridos. Bom rever todo mundo (quase, faltou a prima loira). Abraço e carinho recebidos da vovó logo na chegada, que sempre surpreende com seu vasto conhecimento (hoje a surpresa foi o deus do sol grego!). A titia amada de visual novo, com aquele sorriso gostoso estampado no rosto. A prima mais nova querendo mostrar tudo, participar da conversa e pedindo um cachecol igual ao meu, porque ele é lindo! Comércio de bijus correndo solto no quarto e depois dos parabéns e das velinhas assopradas, a conversa animada na mesa. Irmão, cunhada e tias conversando sobre hospital e centro cirúrgico, a prima trompetista que está do meu tamanho, irmã compreendendo tudo só com meu olhar e no fim, o início da despedida do primo-comentarista, que nos deu uma carona e que vai deixar saudades!

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

F é r i a s

Férias...
É retirar o relógio do pulso e levantar quando o sono foi embora, comer quando a barriga pede e deitar quando o corpo fala que está na hora.
É almoçar e jantar sem pressa, batendo papo e recordando velhas histórias.
É ler o que o coração aponta, ouvir um CD até enjoar, ver bobagens na TV e rir, rir, rir. (Não vale Faustão e Gugu, porque aí não há riso, só irritação!).
É deixar o carro e sair de bicicleta ou andando, porque o tempo não é um problema, mas um aliado.
É ouvir o irmão tocar violão e cantar junto boas canções.
É caminhar pela praia sentindo o friozinho da água, a textura da areia e o suspiro do vento.
É comentar um livro, uma viagem, um fato lembrado sem precisar esperar pelo fim do dia, pelo momento do chegar-em-casa-depois-do-trabalho.
É atender o celular se der vontade, ver e-mail se der na telha, navegar na internet para ver coisas bobas e boas.
Férias, enfim, é uma pausa, um respirar, uma vírgula no corre-corre nosso de cada dia.

domingo, 20 de janeiro de 2008

Viagens

E o ano começa com a nossa habitual viagem. Faltou uma, mas os três ainda persistem.
Saída: Praia Grande.
Destino: Farol de Santa Marta (Laguna), com parada em Floripa e Bombinhas.
Resultados: espírito renovado, álbum e memória ampliados, novos desejos, sonhos e planos. E também algumas conclusões...
* Bombinhas continua sendo o lugarzinho do coração;
* Fazer trilhas é bom demais, sobretudo quando não sabemos o que vamos encontrar do outro lado;
* Há certas coisas que não são para entender, são para aspirar como essência;
* Boa companhia é 90% de uma boa viagem;
* Uma caminhonete faz falta;
* Acampar é bom, mas uma cama macia é boa demais;
* Patos nadam também no mar;
* Fazer trilha pode causar efeitos colaterais;
* São os argentinos que movimentam a economia de Bombinhas;
* Crianças argentinas não gostam da casquinha do sorvete;
* Brasileiros são estrangeiros em Bombinhas;
* Libaneses não entendem muito bem o português;
* Ano que vem tem mais, porque "nossa" viagem é sempre marcada por boas lembranças, momentos incríveis e muitas risadas
.

domingo, 13 de janeiro de 2008

Um pouco de Amélie

Hoje, ouvindo o incessante barulho da chuva e imersa no sofá da sala, já que foi impossível ir à praia, debrucei-me sobre um livro de teoria sobre o teatro e, num dado momento, recordei do filme O Fabuloso Destino de Amélie Poulain. Numa Paris estilizada, romântica e perfeita vive Amélie, uma jovem pueril e sonhadora que tem como objetivo de vida ajudar as pessoas com pequenos gestos.
Há duas passagens nesse filme que me encantam: o início, quando Amélie, a mãe e o pai desta personagem são descritos pelo narrador e por imagens que mostram o que gostam, o que não gostam e suas manias. Bom seria se pudéssemos assim nos apresentar aos desconhecidos: olá, sou Deisily, gosto de viajar e comer feijão na xícara, adoro ler e dar aulas, não gosto de pisar em chicletes, detesto dois dias seguidos de chuva e tenho mania de tomar coca-cola. Pronto! Sem idade, profissão, RG, CPF, telefone e e-mail. É, seria muito bom.
Outra passagem que adoro é quando se dá a euforia de Amélie ao descobrir o prazer em ajudar as pessoas: a trilha sonora alegre, o som ambiente, o confuso diálogo entre as personagens, a velocidade na sucessão das imagens, a intensa movimentação da câmera fazem com que o espectador sinta o cheiro daquela rua de Paris, sinta o estado eufórico da personagem e vibre com sua alegria ao descobrir uma boa razão para viver. Por fim, quando Amélie atravessa a ponte, temos a certeza de sua mudança. A travessia simbolizando um rito de passagem, o ir de um estado a outro, a transposição de uma realidade. Depois de ver ao filme, nós também atravessamos uma ponte. Uma pontinha de vontade por mudança invade o ser e Amélie não parece mais ser apenas uma caricatura doce e pueril.

Ficha Técnica
Título Original: Le Fabuleux Destin d'Amélie Poulain
Gênero: Comédia
Tempo de Duração: 120 minutos
Ano de Lançamento (França): 2001

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Dias bons

Dias bons. Boas surpresas, confirmações, certezas. Tarde encerrada com flores amarelas e abraço e o prenúncio do querer-bem invadindo o ser. Agora, a despedida deixando o gostinho de saudade de um tempo que se foi, mas que deixou bonitas lembranças e um laço de grande afeto.