quinta-feira, 30 de agosto de 2007

"O MEU URSINHO SE CHAMA PEDRINHO.
TODA VEZ QUE ACORDO CEDINHO
DOU UM BEIJINHO
COM MUITO CARINHO
NO SEU LINDO ROSTINHO."

Jaqueline Ortiz, aluna-leitora-poeta, 8 anos, engatinhando pelo caminho da leitura.

Sim, a leitura abre portas para a imaginação, transforma, cria e recria.

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Uma vez mais o tempo

Não sei se estou com mania de perseguição. Se for isso, é perseguição coletiva, porque o assunto vem sendo proferido por muitos, por meio de simples e descompromissados comentários, até mais elaboradas discussões. O tempo vem me perseguindo. Aterrorizando-me. Domingo, tenho o hábito de planejar a semana, fazendo uma espécie de listinha que fica ao alcance dos meus olhos. São os objetivos a cumprir. O grande problema é que a semana passa - corre! - e não há tempo para fazer tudo. Então, quarta à noite é um momento de repensar os objetivos, ver o que é possível postergar. Alguns objetivos são adiados para o fim de semana. Mas, novamente não é possível conciliar estudo, planejamentos, correções de provas, escritas, leituras, cinema, café com as amigas, enfim... O tempo aponta cruelmente no relógio, na folha do calendário, nas páginas, no próprio blog. E fica sempre a sensação de querer mais e fazer tão pouco.

terça-feira, 28 de agosto de 2007

A bolsa amarela

Estou lendo com os meus alunos o livro A bolsa amarela, de Lygia Bojunga. O livro convida as crianças (deveria dizer aqui leitor, pois todos podemos abrir a bolsa amarela, independente da idade) a adentrar um mundo de gostosuras, conflitos, imaginação, criação. A linguagem é deliciosa e está longe, muito longe daqueles livros infantis que acreditam que a criança é um ser frágil, indefeso, incapaz de refletir. Nesse terceiro livro da autora, caminhamos entre o imaginário e o real, o fantástico e o cotidiano. Não há nada de pueril, moralizações, e aquela linguagem enfadonha do inho.
Raquel, uma menina cheia de sonhos e imaginações, guarda dentro de sua bolsa amarela os mais secretos e incompreendidos sonhos e desejos: a vontade de crescer, de ser garoto e de escrever. Guarda seus desejos buscando a auto-afirmação, o auto-conhecimento porque, em sua família, criança não tem vontade.
Resolvi ter uma bolsa azul - minha cor preferida. Guardarei nela minhas aspirações, não por me sentir incompreendida - ao contrário, tenho me sentido muito compreendida! - mas para abri-la todos os dias, recordando os motivos que tenho para estar aqui, para trilhar e escolher as veredas nas quais anseio transitar.

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Tardes de domingo

"Gugu, Faustão ou Machado de Assis?
Escolha com quem você vai passar as suas tardes de domingo".

(slogan de um marca-páginas da PUC)
Haverá mudança quando a opção de muitos for a terceira. Enquanto isso, o mundo continua a ser povoado por mentes que não pensam, só reproduzem; que não conhecem, apenas aceitam; que não falam, mas calam.

domingo, 26 de agosto de 2007

Um novo olhar sobre o domingo

Domingo pode também ser um rito de passagem. Em meio a um almoço em família com direito a macarronada, sorvete de sobremesa e presença de mãe, pai, maninho, irmã, cunhado, tia, prima, descobri no domingo não o prenúncio de uma tediosa segunda-feira, mas de uma nova semana. Tempo novo que recheia o coração de esperança, de vontade de terminar o inacabado, de crescer, de fazer e refazer. Por isso aprecio tanto os ritos de passagem: nos permitem refletir quando fatiam o tempo.

sábado, 25 de agosto de 2007

Afetos

A vida é feita de laços de afetos. Afetos tecidos, afetos recriados a todo instante, afetos que permanecem apenas na memória, afetos que ressurgem em momento inesperado, mas afetos. Somos cativados a todo instante e também cativamos - o movimento do ir-e-vir - nos tornando responsáveis por nossos afetos. Hoje estou me sentindo completamente cativada! Coração cheinho de afetos...

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Isso é coisa da mídia?

Ontem, tarde da noite, corrigindo provas. Em meio a uma pilha de papéis, um riso divertido:

2) De onde vinham os escravos? Como era a forma de pagamento?
R: Vinham da África e eram trocados por fumo e água ardente. Isso era chamado de tráfego aéreo.

Aviões no chão, pilotos no céu e a mídia propagando palavras ao léu... Palavras essas que foram parar na cabecinha dos meus alunos.

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Depois de um recesso...

Recesso forçado! Acho que será assim até o final da dissertação... Mas, enfim, consegui passar por aqui hoje e estou pensando em inversão. Talvez seja essa uma palavra em ascensão.
Inversão de valores, de comportamento, na escola, na família, na sociedade, em todos os setores, segmentos... Estamos perdidos em um emaranhado de fios sem nada tecer, sendo engolidos por um temível dragão: o tempo.

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Nó na garganta

Um sinaleiro...
Trânsito? Pedestre? Carro?
Não, uma criança...

_ Professora, olhe que linda minha borracha nova!
_ Que bonita!
(Borracha verde, normal, nada de interessante)
_ Ontem ganhei tanto dinheiro na rua que deu até pra comprar uma borracha.
_ Na rua? Como assim?
_ Pedindo no sinal. Gostou da minha borracha?
_ Adorei.

(...)

....S I L Ê N C I O....

domingo, 12 de agosto de 2007

Pai

Pai,
s.m.,
mão zeloza,
olhar atento,
palavras amigas,
outrora firmes,
desvelo, afetos,
cumplicidade.

sábado, 11 de agosto de 2007

Um sábado de transformações

Ontem fui dormir tarde e já sofrendo por antecipação: acordar cedo para passar o sábado todo no Seminário de Língua Portuguesa. Mas, foi um sábado transformador.

Dentre as palestras e oficinas de pensadores da linguagem como Eleonora Scliar-Cabral e Angela Mari Gusso, tivemos o privilégio - e o desconforto - de ouvir Luiz Percival Leme Britto. Desconforto porque o Percival provocou, instigou, desafiou.

Falou da escrita enquanto instrumento - perigoso! - de poder, de organização social, de expansão da memória, de intervenção no espaço social. E da responsabilidade esquecida pela escola de ensinar a pensar e a refletir sobre a escrita, sobre a língua, tão marcada ideologicamente.

A escola de hoje ensina a escrita algemada ao contexto, que é automática, "irrefletida": ler o nome, placas de trânsito, panfletos e o nome do ônibus É POUCO! Esses são textos que reduzem à decodificação, textos colados ao senso comum, que não exigem reflexão, não transformam.

A educação deve centrar-se não no contexto imediato, esse é somente o ponto de partida. O cerne da aprendizagem deve ser a reflexão, a democratização da cultura e dos saberes, o novo. Transcender a cotidianidade, pensar e intervir: isso é a aprendizagem transformadora, que leva à amplitude da visão de mundo!

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Tratando de poesia

Desenvolvendo um projeto de poesia visual na minha escola, fui alertada recentemente por uma amiga sobre a existência de um poema, na verdade, um meta-poema, que me fascinou. Ars Poética, de Archibald MacLeish, é de uma sensibilidade e concretude que impressionam. Já tenho a sensação de que posso tocar em uma poema, ainda que com os olhos.

A poem should be palpable and mute
As a globed fruit
Dumb
As old medallions to the thumb
Silent as the sleeve-worn stone
Of casement ledges where the moss has grown -
A poem should be wordless
As the flight of birds
A poem should be motionless in time
As the moon climbs
Leaving, as the moon releases
Twig by twig the night-entangled trees,
Leaving, as the moon behind the winter leaves,
Memory by memory the mind -
A poem should be motionless in time
As the moon climbs
A poem should be equal to:
Not true
For all the history of grief
An empty doorway and a maple leaf
For love
The leaning grasses and two lights above the sea -
A poem should not mean
But be.

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Língua mutante

"Flor do Lácio, Sambódromo
Lusamérica. Latim em pó
O que quer,
O que pode
Esta língua?"


Caetano Veloso, Língua. In Velô

Dicionário da Vivi
1- tatu-bola: pessoa que comete algum erro ou engano;
2- quete-quete: conversa, diálogo;
3- gica: não gostar mais de algo, rechaço, ojeriza;
4- barulho: reclamação, discussão;
5- vaca-véia: denominação dada a uma pessoa quando não se concorda com ela;
6- de varde: estar sem nada para fazer.
As demais palavras ainda estão em fase de aprendizagem...

A língua muda no tempo e no espaço, dança, brinca, palpita, enfim, vive.

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Nós que aqui estamos...

No início dessa semana, emprestei um documentário ao meu pai e, hoje, estava em meu quarto tentando planejar meu dia de amanhã quando ouvi uma melodia conhecida...
Não resisti, larguei os livros e fui me deliciar uma vez mais com Nós que aqui estamos, por vós esperamos, de Marcelo Masagão. Entenda, aqui, deliciar como refletir, pensar, chocar.
Trilha sonora primorosa, imagens de arquivos, filmes, reportagens e fotos antigas que falam por si mesmas e algumas frases de efeito conduzem o olhar, em uma viagem no tempo, por um mundo de contradições: destruição e construção, valorização e banalização. Um imenso mosaico é formado por artistas, pensadores e indivíduos anônimos que construíram fatos, e seres sombrios que produziram medo, pavor e miséria, sujando as páginas de nossa história. De um lado Hitler, Stalin, Mussolini, Médice; de outro, Picasso, Freud, Ghandi, Garrincha.
E no emaranhado desses (des)construtores da história está a única imagem filmada por Masagão, que encerra o seu filme-memória: o cemitério. O diretor nos faz refletir sobre o fim, sobre a mortalidade, condição esquecida por muitos no tecer a história.
Título original: Nós que aqui estamos por vós esperamos
País de Origem: Brasil
Ano: 1999
Duração: 73min
Diretor: Marcelo Masagão

terça-feira, 7 de agosto de 2007

Cheiros e afetos

Passando hoje à tarde por um stand de aromas - xampu de camomila, sabonete de pitanga, óleo de baunilha... - recordei de alguns cheiros que me trazem lembranças da infância e contei a Vivi: o cheirinho gostoso da minha lancheira vermelha da Mônica, das ameixas amarelas da chácara do vovô, do feijão cozido às segundas-feiras pela mamãe, da minha bisavó, do batom moranguinho, da boneca meu bebê... Enfim, cheiros trazem afetos!

E foi essa minha relação com cheiros e livros que me fez confrontá-los aqui. Em A Morte em Veneza, obra de Thomas Mann, Gustav von Aschenbach está em crise com a vida austera que levava e decide passar as férias de verão em Veneza. Lá, apaixona-se por um adolescente, Tadzio, que é a representação perfeita da beleza e da inocência sendo, portanto, o contraponto da decomposição física de Aschenbach. Deste modo, a paixão, insuflada por imagens da mitologia grega, vai lentamente dissolvendo a racionalidade e passa a confrontar as duas personagens que representam as contradições do existir: vida e morte, carne e espírito, saúde e doença, eterno e efêmero, começo e fim, belo e grotesco. E parte importante na caracterização destas contradições é o cheiro de Veneza, cheiro esse que invade a personagem, se mescla com os sentimentos da mesma, tornando-se impossível saber se Aschenbach é influenciado pelo cheiro ou se este é apenas uma impressão do acadêmico alemão. Há a fusão da personagem e da ambientação. O leitor de Mann também torna-se capaz de sentir o cheiro pútrido de mar e lama que invade cada página. Esse cheiro representa a decadência do contexto aristocrático europeu, o fim do belo e da juventude, o definhamento de Aschenbach. É o contraponto da beleza irradiada por Tadzio e parece emanar das páginas do livro, sufocando e envolvendo não só Aschenbach, mas também o leitor, entorpecendo os sentidos e, com isso, despertando um novo olhar, provocando, instigando, formando um novo conhecimento do mundo.

Cheiros exalados de livros também afetam...

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Uma invasão alienígena

Na noite de 30 de outubro de 1938, nos EUA, trabalhando num programa de rádio que adaptava livros à linguagem teatral, na CBS, Orson Welles resolveu apresentar A guerra dos mundos de forma ousada e inusitada, algo típico de sua conduta e forma de trabalho. A obra de G.H. Wells, que tinha como enredo uma invasão alienígena em nosso planeta, foi apresentada como uma notícia real, não como um teatro.
Acreditando realmente que seres de outro planeta invadiam a Terra, a população sofreu um grande choque, o que provocou um notável rebuliço: pessoas despedindo-se de familiares pelo telefone, outras molhando as cortinas para evitar a ação dos gases marcianos, correria e pânico nas ruas, choros, fuga em massa para as montanhas ou lugares distantes e um número considerável de pessoas afirmando ver marcianos em todos os lugares.
Então o caro leitor pode vir a pensar: que estupidez! Ou ainda: que ingenuidade dessas pessoas!
No entanto, proponho a reflexão: nossas sensações não continuariam sendo manipuladas pela mídia - agora não somente o rádio, mas muitas -, de acordo com os Senhores-que-pensam-ser-os-donos-do-mundo? Quantos marcianos não são sorrateiramente postos em nossas sábias mentes todos os dias? E você, já foi visitado por um marciano hoje?

sábado, 4 de agosto de 2007

Sexta que já é sábado...

Noite agradável - aquele frio tomou seu rumo. A modorra inicial depois de uma semana de trabalho foi substituída por um "coração cheio de domingo". Afinal, nada como pessoas bonitas, ambiente gostoso, boa música e troca de idéias para começar bem o fim de semana...

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Memória, leitura

"O que diferencia o homem do animal é o exercício do registro da memória humana". Vygotsky
Se a literatura está hoje presente em minha vida é porque somos aquilo que vamos colhendo nos "bosques" que atravessamos. História, de acordo com meu repertório, significa a mamãe nos apresentando lindas enciclopédias para tentar sanar as dúvidas representadas pelos porquês da infância; o papai com seus livros de cabeceira e suas revistas de atualidades e a vovó embalando nossos sonhos de Sábado à noite com os contos de fadas tradicionais ou com os que sabiamente criava.
Visitei também na escola o Menino Maluquinho, uma certa fada que tinha idéias, a Isabel marcada por uma lágrima, o Zezé e o carinhoso Portuga e o Tistu com seu dedo verde. Essas visitas levaram-me a buscar e conhecer novos sendeiros como o senhor Manuel Bandeira, o inestimável Drummond, a senhora Cecília Meireles, a dona Helena Kolody, a senhora Rachel de Queiroz, dentre outros belíssimos autores.
São imagens como essas que povoam minha memória e que acesso quando falo em histórias, leituras. A memória faz parte de todos nós. É construída por fragmentos das situações que vivenciamos, dos caminhos que percorremos, das experiências que temos ao longo da vida. Portanto, a memória pode apresentar semelhanças e diferenças nos indivíduos. E é dela partindo que criamos determinados laços e estabelecemos significados dos livros com os quais nos deparamos nos sendeiros da vida.

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Pessoas e livros: afetos

Estou relendo O pequeno príncipe, desta vez com meus alunos de 2ª série. É a quarta vez que visito essa história e, a cada visita, meus olhos-de-ver-poesia percebem imagens diferentes.
Hoje, por exemplo, lendo uma das minhas passagens favoritas - o capítulo em que a raposa encontra o principezinho - fiz uma relação das rosas com os livros. A raposa diz ao menino-príncipe que a rosa dele é diferente de todas as outras rosas do mundo, porque ele foi por ela cativado. E o pequeno príncipe passa a ver sua rosa com olhos-de-ternura, porque com ela estabeleceu laços, foi por ela afetado.
Assim são as relações humanas e também a relação com os livros: a cada olhar o novo surge por meio do afeto - entenda-se afeto como algo que provoca, de alguma forma - e este novo toma corpo, comove, faz a diferença. Como pessoas que chegam de mansinho - ou já provocando rebuliço - e vão tornando-se essência, os livros que nos afetam tornam-se tão familiares e únicos como a rosa do principizinho e, a cada visita, são redescobertos. E cada despedida, cada adeus dado aos personagens, provoca o choro da saudade, a mesma saudade que a raposa, cativada, sentiu ao despedir-se do pequeno-grande príncipe.