terça-feira, 22 de maio de 2018

Saudade em fragmentos 1

Conheci o significado da palavra “saudade” com quase quarenta anos. Sim, já havia sentido saudade, é claro. De uma amiga que foi embora para Campinas, com quem me correspondi por carta durante alguns anos. Sim, carta. Não havia internet, muito menos WhatsApp. Depois, a vida nos levou a caminhos diferentes e à arte do desencontro. Senti saudades dos amigos e das tardes de basquete quando mudei de escola. E saudades de dormir à tarde quando comecei a trabalhar. Saudades brandas, leves… Também senti uma saudade-que-aperta-o-coração da risada da minha tia, dos cabelos grisalhos do meu avô, da alegria da minha avó. Saudade de gente que partiu. Saudade apertada essa. E aí, sem avisar, chegou uma saudade que dói. Dói mesmo. Uma saudade que carta, telefone, internet nenhuma dá jeito. Nem fotos, nem lembranças. A saudade de alguém que vai embora, vira estrela e que talvez, um dia, encontre de novo. Talvez. A morte é repleta de talvez. Talvez a pessoa vire estrela, talvez ganhe o descanso eterno, talvez encontremos um dia. Talvez. E no meio desse tanto de talvez, há uma certeza: a saudade que teima em inundar os olhos, a acelerar o coração, a tornar os dias cinzas. A saudade da minha mãe.