quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

"?"

Ela sentiu uma tristeza, um mal estar, uma inquietação daquelas que reviram todo o ser. Uma porta se fecha, mais uma porta. Ele, gentil e adorável como em todos os outros momentos compartilhados, lhe entrega uma flor, talvez a última. Última flor, último tchau, mas sem última risada gostosa. Porque ela fechou a porta. Sentiu que era o momento de se recolher dentro de uma conchinha, visitar o fundo do mar e, mais tarde, voltar à superfície com a alma renovada, com as idéias arrumadas cada qual no seu lugar. A bagunça de sentimentos já passou do limite do aceitável. Logo ela, que é sempre tão racional, sempre sabe muito bem o que quer. Mas talvez seja preciso perder-se para depois encontrar a si mesma. E ela partiu, dentro da concha, para o fundo do mar.

sábado, 15 de dezembro de 2007

Palavras ao vento

Ganhei de uma amiga muito legal um livro chamado Pequeno dicionário de palavras ao vento, de Adriana Falcão. O livro traz definições gostosas, muito afetivas e bem humoradas de palavras que são trazidas até nós pelo vento que rege a vida. Eis algumas:
Abandono: quando uma jangada parte e você fica.
Banca: monte de gente sentada fazendo cara de quem sabe mais do que os outros.
Calma: quando as agonias dormem profundamente dentro da gente.
Desculpa: palavra que pretende ser um beijo.
Emoção: um tango que ainda não foi feito.
Flerte: quando se joga escravos de Jó com os olhos.
Gula: quando o chocolate é mais importante que espelho.
Horizonte: linha que serve para evitar que o céu e o mar se misturem.
Infância: o prefácio da pessoa.
Justificativa: tentativa de desculpa que nem sempre cola.
Lhufas: tudo que os pernósticos sabem sobre humildade.
Muro: poleiro de indecisos.
Nunca: palavra bastante corajosa, mas quase nunca cumprida.
Oferta: que custa não sei quanto e noventa e nove.
Paradoxo: pensamento que gosta de ser do contra.
Quixotesco: na falta de moinhos de vento, confundir sinais de trânsito com vaga-lumes.
Romance: caso de amor muito bem encadernado.
Silêncio: quando os ruídos estão sem assunto.
Tempo: onde moram os quandos.
Urgente: que não dá tempo de fazer xixi primeiro.
Vírgula: a respiração da idéia.
Xerox: multiplicação que não é milagre por ser de papéis e não de pães.
Zen: quem consegue não enlouquecer mesmo sem tomar Prozac.