terça-feira, 19 de agosto de 2008

Uma infância, um quadro

Entrei no museu e, no meio de tantas pessoas e línguas, estava sozinha, pensamento galopando em algum lugar. Os olhos percorriam tudo brincando, tentando convencer a memória a guardar cada pedacinho do novo mundo. Os pés passeavam lépidos, numa ida-e-vinda por corredores e salas até que, subitamente, pararam. O coração acelerou, a memória voltou alguns anos, os olhos sorriram. Era o meu quadro! O quadro da minha infância, onde me reconhecia na menina de vestido claro e me imaginava no jardim, alegre, talvez brincando de bom-barqueiro, como a vovó ensinara. O quadro, a praia, as noites conversando com a avó, paciente e doce, os passeios noturnos no Brejatuba. Época de brinquedos e folguedos, em que Monet ou Mulheres no Jardim não faziam parte do acervo. Era simplesmente o quadro da casa da praia da vovó, com o jardim em que eu ousava sonhar brincar.

sábado, 16 de agosto de 2008

Tempo, temp, tem, te, t, ...

O olhar pousa sobre a novidade, o inusitado. A boniteza enche os olhos e tudo é música. A cada dia, os olhos alcançam mais e mais longe. A cada dia também o coração se enche de saudades. Saudades do conhecido, da rotina, do porto-seguro. Vem o retorno. E com ele a constatação de que o tempo não parou. Uma farmácia mudou de nome, uma casa foi construída, uma obra foi terminada, outra rua foi aberta. O tempo, aliado e inimigo, certeiro, matreiro, anunciando o muito que já foi e o muito que virá.