Entrei no museu e, no meio de tantas pessoas e línguas, estava sozinha, pensamento galopando em algum lugar. Os olhos percorriam tudo brincando, tentando convencer a memória a guardar cada pedacinho do novo mundo. Os pés passeavam lépidos, numa ida-e-vinda por corredores e salas até que, subitamente, pararam. O coração acelerou, a memória voltou alguns anos, os olhos sorriram. Era o meu quadro! O quadro da minha infância, onde me reconhecia na menina de vestido claro e me imaginava no jardim, alegre, talvez brincando de bom-barqueiro, como a vovó ensinara. O quadro, a praia, as noites conversando com a avó, paciente e doce, os passeios noturnos no Brejatuba. Época de brinquedos e folguedos, em que Monet ou Mulheres no Jardim não faziam parte do acervo. Era simplesmente o quadro da casa da praia da vovó, com o jardim em que eu ousava sonhar brincar.
