Sarcasmo, humor, performance e texto impecáveis. Foi o que vi na peça Salmo 91 do Festival de Teatro de Curitiba, uma adaptação do livro Carandiru, de Dráuzio Varela.
A vida-morte dos presos naquele que foi o maior presídio da América Latina é retratada em 10 cenas. Cada uma delas apresenta uma personagem, retratando suas virtudes e crimes por meio de monólogos que dão às palavras um sopro de força, de revolta, de conformação fingida. A palavra se sobrepõe à ação, já que num espaço de confinamento é a palavra o que resta aos presidiários.
Interligando as 10 cenas como uma grande colcha de retalhos, aparece a bola, ora como personagem, ora como objeto, relembrando a final do campeonato de futebol que pode ter sido o estopim da rebelião e do posterior massacre no Carandiru.
Sem dúvida, o público curitibano foi presenteado na noite de sábado com uma peça que conta com um enredo e atuações primorosas, que despertam todos os sentidos do espectador com a força da palavra, o impacto da verdade e dos mais assustadores comportamentos do ser humano, o cenário, o figurino, a atuação, o aroma do café, o cheiro do cigarro, o gosto da cabeça de um rato e as dores físicas e morais, tudo tão próprio de um ambiente hostil e repleto de gente que traz inerente ao ser crimes, sofrimento, iniqüidade, vontades, desesperança, instinto de sobrevivência e fé.
"AQUELE que habita no esconderijo do Altíssimo, à sombra do Onipotente descansará".
Ficha técnica:
Direção: Gabriel Villela
Elenco: Pascoal da Coceição (Dada e Veio Valdo), Pedro Moutinho (Charuto e Valente), Rodrigo Fregnan (Nego-Preto e Zé da Casa Verde), Ando Camargo (Zizi Marli e Edelso) e Rodolfo Vaz (Bolacha e Veronique).