segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Reminiscências

Queria saber escrever. Desenhar com letras no papel branco as tardes de sexta-feira, o cheiro das árvores e a textura da bola laranja que inundavam meu ser há pares e pares de anos que ficaram no passado.
Um jogo, um toque, um olho-no-olho com a rapidez de um raio, um rubor, um beijo. Tudo agora morando no tempo que passou.
Tinha também uma bolsa, tão pequena, que mais parecia uma cartola mágica: dela saíam batom, escova, toalhinha, água, papel, caneta, bala, chicletes... Há muito não vejo a bolsa. Acho que com ela estão as tardes, essas tardes que ficaram em algum lugar do tempo.

domingo, 12 de outubro de 2008

Olhos azuis

Olhos azuis , de 1996, é um documentário sobre diferenças: raça, sexualidade, gênero. Jane Elliot, professora, reúne um grupo de pessoas para ministrar um workshop e combina com o grupo tratar de forma discriminatória todas as pessoas que têm olhos azuis. Ao conduzir a experiência dos grupos, Elliot evidencia o racismo, a falta de tolerância com as diferenças, os fenômenos de grupo, a liderança, a submissão voluntária, pondo em discussão quem são os líderes da sociedade e como estes são perspicazes, tornando a maior parte da população submissa às idéias de uma elite manipuladora.
Blue Eyes
Ano: 1996
Duração: 93 minutos
Direção: Bertram Verhaag

domingo, 5 de outubro de 2008

O livro dos abraços

O livro dos abraços veio numa mensagem de um amigo querido, uma mensagem que deixou aquela vontade de ler. Ontem, folheando o livro, encontrei uma preciosidade: os ninguéns.
Os ninguéns são aqueles...
"Que não são, embora sejam.
Que não falam idiomas, falam dialetos.
Que não praticam religiões, praticam superstições.
Que não fazem arte, fazem artesanato.
Que não são seres humanos, são recursos humanos.
Que não têm cultura, e sim folclore.
Que não têm cara, têm braços.
Que não têm nome, têm número.
Que não aparecem na história universal, aparecem nas páginas policiais da imprensa local.
Os ninguéns, que custam menos do que a bala que os mata."

O livro dos abraços. Eduardo Galeano.

sábado, 4 de outubro de 2008

Ensaio sobre a cegueira

Estranhamento. Foi exatamente o que senti quando o filme iniciou. Então, o estranhamento cedeu lugar à raiva, ao nó na garganta, à sensação de sufocamento. Olhos fixos na tela, no colorido, no negro e no branco das imagens. O eterno conflito do espiritual e do material que compõe a essência do ser humano invade as personagens, e nós, espectadores, nelas nos reconhecemos. Esse reconhecimento incomoda. Um casal deixa a sala.
Instinto e razão, cotidiano e sublime, cegueira e conhecimento. Somos um emaranhado de sentimentos duos, duplos, ambíguos, complexos. E o filme é um retrato dessa tamanha "humanidade", desses fractais que nos constróem.

Elenco: Julianne Moore, Danny Glover, Alice Braga, Mark Ruffalo, Gael García Bernal, Don McKellar, Maury Chaykin, Martha Burns.
Direção: Fernando Meirelles
Gênero: Drama
Duração: 120 min.